Título: O alerta que é dado pelas queimadas
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Fonte: O Globo, 30/08/2010, Opinião, p. 6

Focos de queimadas, principalmente na Região Centro-Oeste do país, são comuns, embora não desejáveis, nesta época. Mas números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam uma preocupante estatística: o número de incêndios florestais em 2010 praticamente dobrou em relação ao mesmo período do ano passado.

Na contramão das curvas descendentes de 2008 e 2009, também aumentou o volume de áreas atingidas pelo fogo. Até meados deste mês, o Inpe havia registrado perto de 31 mil pontos de queima em todo o território (contra pouco menos de 16 mil em igual período do ano passado).

Igualmente inquietante é que o fogo desta vez chegou a regiões onde ainda não se haviam detectado focos significativos, como o Sul de Tocantins e o Norte de Goiás, perto da divisa com Mato Grosso estado onde, até a semana passada, estavam quase 800 dos cerca de 1.110 pontos registrados somente este mês no país. Novas áreas de combustão também foram localizadas no Sul de Goiás e no Pará.

Há razões sazonais para o fenômeno, como a estiagem desta época de tempo quente e seco, notadamente no Centro-Oeste e no Sul da Amazônia. A partir de outubro, as queimadas migram para o Nordeste e, no início do ano, chegam a Roraima e ao Norte do Amazonas. Mas, além da questão climática, fatores sociais agravam o problema: para abrir pastagens e limpar a terra para o cultivo, produtores rurais queimam grandes extensões de vegetação, em incêndios que, não raro, lhes fogem ao controle.

Da combinação de falta de ações de prevenção contra manifestações da natureza e frouxidão no controle de deletérias e equivocadas atividades agropecuárias resulta um quadro que compromete o meio ambiente, prejudica atividades econômicas e ameaça a saúde da população.

Igualmente grave é o dado de que as queimadas e as ações de desflorestamento respondem pela maior parte dos índices de emissão de gases de efeito estufa do Brasil, superando a marca de atividades como a indústria. Essa nociva tendência coloca o Brasil entre os cinco maiores países emissores de tais gases.

Não ajuda constatar que o Código Florestal, dispositivo legal para tratar do assunto, está temporariamente inativo. A lei passa por uma revisão, já aprovada em comissão do Congresso, mas que em razão do recesso eleitoral só deve ir a plenário no próximo governo. Entendimentos iniciais estabeleceram uma base sobre a qual os parlamentares deverão discutir o texto.

Há distorções a corrigir, à direita e à esquerda, devido a abissais divergências entre a bancada ruralista (que, por exemplo, defende uma anistia a produtores rurais acusados de desmatamento) e movimentos ambientalistas, favoráveis a medidas que inviabilizam tradicionais atividades agrícolas.

O fundamental, no entanto, é que das discussões saia um texto equilibrado, capaz de dar respostas eficientes a problemas ambientais. Como as queimadas. Não se deve esquecer que haverá no final do ano nova rodada de negociações multilaterais em torno da questão do clima.