Título: Imóvel é o novo carro
Autor: Delmas, Maria Fernanda
Fonte: O Globo, 30/08/2010, O País, p. 9

SÉRGIO VALE

Bolha imobiliária, a exemplo do que aconteceu nos EUA, não é uma preocupação para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Apesar da disparada de preços de imóveis em determinadas áreas, isso não é algo generalizado, acredita. Vale diz ainda que o programa Minha Casa, Minha Vida tem forte impacto eleitoral.

O GLOBO: O programa Minha Casa, Minha Vida ajuda nas eleições? SÉRGIO VALE: O programa é forte em termos de impacto eleitoral. Tem muita gente se cadastrando. Só esse cadastrar e o ver que está andando são um potencial enorme para o governo. O programa tem um apelo muito maior que o PAC, que a população não entende bem. Foi hábil o governo ao colocá-lo um ano antes da eleição.

O crédito imobiliário pode se expandir sem problemas? VALE: Hoje ele representa 4% do PIB. Pode chegar a 11% nos próximos quatro anos, segundo a Abecip. Isso é factível. O que foi a compra do automóvel será agora a compra do imóvel.

O senhor acredita em bolha imobiliária no Brasil? VALE: Não. De forma geral, o emprego e a renda estão crescendo. Nos EUA, as pessoas já não conseguiam pagar seus imóveis. O sistema brasileiro é bem mais regulado.

Nem nas áreas onde os preços enlouqueceram? VALE: Onde há demanda intensa e não existe área onde constr uir, haverá disparada de preços, como na Zona Sul do Rio. Mas são problemas pontuais, que não significam bolha. Os preços em geral deverão continuar subindo, mas não de forma preocupante.

Nesses locais onde o preço disparou já há debandada? VALE: São Paulo já vê uma migração do Centro expandido (a área entre os dois rios) para a periferia. Mas, nesses locais onde o preço sobe muito intensamente, uma hora a demanda não aguenta pagar e os valores se ajustam, acomodam-se com o tempo. Não haverá tanta gente muito, muito rica para morar nessas áreas.

(Maria Fernanda Delmas)