Título: Bem distante da realidade dos pais
Autor: Delmas, Maria Fernanda
Fonte: O Globo, 30/08/2010, O País, p. 9

Técnico enfrenta barreiras, mas consegue a casa própria. Na adolescência, sonho distante

GLAUBER RODRIGO posa numa unidade do Minha Casa, Minha Vida parecida com a que comprou na Zona Leste de São Paulo: ¿Vou pagar uma prestação de R$490¿

Leila Suwwan

SÃO PAULO. Quando Glauber Rodrigo Costa começou a trabalhar como office boy, aos 15 anos, para ajudar a família e continuar estudando, achava que a casa própria era um plano longínquo. Hoje, aos 25, conseguiu comprar um apartamento, em construção, na Zona Leste da capital paulista, com subsídio do Minha Casa, Minha Vida. Descreve a conquista como uma mistura de ansiedade, satisfação e missão cumprida.

¿ Eu e minha namorada começamos a procurar um imóvel há um ano e meio. É um processo frustrante, que exige dedicação.

O périplo do técnico em comunicações incluiu dois fracassos. Primeiro, foi barrado na análise de crédito, que considerou o salário de R$1.200 insuficiente para a compra do apartamento de R$107 mil, pelo programa. Na segunda vez, em um Feirão da Caixa, o casal conseguiu vencer a burocracia. Mas faltaram R$5 mil para completar a entrada.

¿ Foi uma decepção terrível. Depois disso, fui procurar sozinho, para não frustrar a família. Tinha recebido uma promoção, passei a ganhar R$1.600, passei da barreira dos três salários mínimos, e essa foi minha porta de entrada ¿ explicou Glauber. ¿ Quando contei a novidade para minha namorada, ela ficou pálida, gaguejou, chorou. Vamos ficar noivos no fim do ano. Queríamos ter a casa para nos casar. Hoje, o aluguel fica em quase R$600, R$700. Vou pagar uma prestação de R$490.

Segundo Glauber, comprar a casa era algo que, durante sua adolescência, parecia distante. A economia era turbulenta, e ele tinha na memória a dificuldade que seu pai, hoje um taxista autônomo, teve para instalar a família em uma casa própria.

¿ Minha família se mudou com muito sacrifício para a casa que ainda estava no contrapiso. Demorou anos para ficar pronta. Hoje, acho que meus pais podem ter a sensação de missão cumprida. No meu trabalho, outros quatro também conseguiram.

Na avaliação de Glauber, o governo ¿dá a oportunidade¿, mas cada pessoa precisa batalhar, juntar dinheiro e ter iniciativa:

¿ Pelo plano do governo, a economia explodiu, está tudo crescendo, as construtoras, as empresas. Nunca houve algo desse tipo. Vejo futuro para meus irmãos.

Glauber diz que não tem tempo para acompanhar a política, com a jornada longa de trabalho e estudos. Mas ele acha que o programa e o caminho da economia têm de continuar.