Título: Petrobras: a favorita, mas agora nem tanto
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 30/08/2010, Economia, p. 21
Pequenos acionistas estão divididos sobre oferta pública de ações e questionam interferência do governo
PEREIRA: ¿Vou vender outras ações, não tenho de onde tirar dinheiro¿
RENE PROENÇA: ¿Vou aguardar a capitalização para ver o que fazer¿
No embalo das grandes descobertas do pré-sal, eles colocaram as economias nas ações da Petrobras. Mas o que tinha tudo para ser um ganho certo transformou-se em dor de cabeça. Com a conturbada capitalização da estatal, os pequenos investidores viram suas aplicações em ações da companhia encolherem 26% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) somente este ano. De queridinha, a empresa agora divide opiniões entre minoritários, incomodados com as ingerências do governo.
Francisco Stonis Filho comprou as ações da Petrobras a R$32 em meados do ano passado, antes de o governo enviar ao Congresso o projeto de lei da capitalização da estatal. Ele viu seu investimento encolher 16,44% desde então.
¿ Para mim, acompanhar a oferta da Petrobras será aumentar a aposta em uma posição perdedora ¿ afirma o investidor, cliente da Um Investimentos e que trabalha em um cartório em Niterói (RJ).
Os analistas explicam, no entanto, que quem tem ações da Petrobras e não acompanhar o aumento de capital terá sua participação reduzida, ou diluída, na empresa. O montante em dinheiro aplicado nas ações será mantido o mesmo, mas esse valor vai representar uma participação menor do capital da companhia.
Corretoras pedem a clientes para aguardar definições
Nas contas de Victor de Figueiredo, da corretora Planner, os acionistas precisarão desembolsar de 27% a 37% do valor que já têm em ações para não verem sua participação reduzida. Pela estimativa, quem tem R$2 mil precisará reinvestir algo entre R$540 e R$740.
Incomodado com as ingerências do governo, o comerciante Adriano Pereira diz que, apesar da atrapalhada capitalização, o potencial de ganhos com a empresa ainda é grande. Ele pretende aderir à oferta pública de ações da companhia para não ser diluído. Para isso, vai vender sua carteira de ações, que inclui Vale, Usiminas e Gerdau.
¿ Não tenho de onde tirar dinheiro para não ter minha participação reduzida na Petrobras. Quando a capitalização estiver perto, vou vender outras ações ¿ explica.
Nas corretoras, o número de minoritários em busca de respostas é cada vez maior. Analistas pedem paciência. A capitalização pode chegar a R$150 bilhões, mas tudo dependerá do preço e a quantidade de barris envolvidos na operação, o que deve ser definido esta semana. Especula-se um preço na faixa entre US$8 a US$9 o barril.
Para quem vai acompanhar a capitalização, Paulo Hegg, da Um Investimento, alerta sobre os riscos de ficar com uma carteira de ações excessivamente focada na Petrobras.
¿ Não se pode colocar todos os ovos na mesma cesta e ficar dependendo do desempenho da Petrobras ¿ afirma.
Rene Proença Neto, que trabalha com computação gráfica, ainda não sabe exatamente o que fazer. Ele comprou papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) por R$29,21. A ação vale agora R$26,56, uma desvalorização de 9,07%.
¿ Não vendi porque Petrobras é uma papel forte, com potencial. Vou aguardar a capitalização e então decidir o que fazer ¿ afirma Proença, cliente da XP Investimentos.
Erick Scott, da SLW Corretora, diz que investidores estão divididos. Ele recomenda aos clientes não vender as ações ¿ que estão em baixa e significariam prejuízo ¿ e também não comprem mais papéis da companhia, que podem oscilar bastante.
¿ Muita gente está com um pé atrás. Tudo vai depender do preço do barril ¿ afirma.
Ganho pode chegar a 40%, mas nada impede quedas
O empresário Luiz Fernando Carrato, por exemplo, investe metade do seus recursos na Bolsa de Valores. Desta metade, 30% estão aplicados em ações da Petrobras. Para ele, acompanhar o aumento de capital da empresa vai significar um excesso de exposição à companhia.
¿ Nessas horas é preciso ter nervos de aço. Quem investe está sempre sujeito a perder dinheiro. É algo que vou ter que avaliar bem, embora ninguém tenha bola de cristal ¿ diz o investidor.
Pelo ¿preço justo¿ calculado nas corretoras, ou seja, quanto as ações valeriam por seus fundamentos, os papéis da Petrobras têm potencial para subir mais de 40%. Mas nada pode garantir que isso vai realmente acontecer, dizem analistas.
Toda a confusão teve seu preço. Na semana passada, a Vale superou a estatal por um dia em valor de mercado, segundo a Bloomberg. A Petrobras valia R$253,1 bilhões, enquanto a Vale, R$254,9 bilhões. A estatal também pode perder para a Vale o posto de empresa com maior peso no Ibovespa, índice de referência da Bovespa.