Título: Neudo é acusado em desvio de R$ 70 milhões
Autor: Camarotti, Gerson; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 28/08/2010, O País, p. 19

Com a renúncia, processo no STF volta para instância inicial BRASÍLIA. Especialistas eleitorais consultados ontem pelo O GLOBO informaram que Neudo Campos não se enquadrará na Lei da Ficha Limpa, pelo fato de sua renúncia ter acontecido depois do registro de sua candidatura e porque não há um pedido de abertura de processo de cassação por quebra de decoro.

Mas Neudo conseguirá ganhar tempo no processo que responde no STF por formação de quadrilha e desvio de dinheiro público no escândalo dos gafanhotos.

Com a renúncia, o processo para de transitar no STF e volta à instância inicial, na Justiça Federal, em Boa Vista.

Adversários acusam agora o ex-deputado de fazer uma manobra para se livrar da Justiça.

O Neudo Campos usou um procedimento para fugir de processos que estão em curso no Supremo Tribunal Federal. Foi uma manobra para que recomece tudo em primeira instância criticou o ex-líder do PR, deputado Luciano Castro (RR).

Ex-governador, Neudo foi apontado como mentor de um esquema que desviou cerca de R$ 70 milhões de verbas federais, entre 1998 e 2002, por meio da suposta inclusão de funcionáriosfantasmas na folha de pagamento do governo. O caso ficou conhecido como escândalo dos gafanhotos. Quando o escândalo estourou, em 2003, ele foi preso com outras 41 pessoas por suspeita de envolvimento no episódio por determinação da Justiça Federal em Roraima.

No STF, não havia data para julgamento Se um dos processos que tramitam contra Neudo no Supremo fosse julgado antes das eleições de outubro, ele poderia, se condenado, perder o direito a continuar na disputa pelo governo do estado. Estaria enquadrado na Lei da Ficha da Limpa e perderia o registro.

Não é a primeira vez que um político usa desse artifício para evitar julgamento no Supremo.

Em outubro de 2007, quando estava prestes a ser julgado pelo STF, o então deputado e ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima renunciou ao mandato, para perder o foro privilegiado.

Com a renúncia, seu processo por tentativa de homicídio (ele atirou no adversário político Tarcísio Buriti em 1993) voltou para primeira instância da justiça comum e, até hoje, não foi julgado em definitivo.

Não há previsão no STF de julgamento de um dos casos de Neudo. Mas, segundo especialistas da área jurídica, ele deve ter sido avisado por advogados que isso poderia acontecer a qualquer momento. A pauta de julgamentos é confirmada no mesmo dia da sessão. (G.C. e I.B.)