Título: Quero continuar ajudando Sérgio a urbanizar favelas
Autor: Vasconcellos, Fábio; Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 28/08/2010, O País, p. 17

Vice de Cabral, Pezão defende Clínica da Família contra filas e espera mais ajuda do governo federal na segurança

PEZÃO: vice-governador quer tratamento diferenciado para o Rio. Sem petróleo, o estado estaria quebrado, diz

Educação e saúde são duas das áreas prioritárias para Luiz Fernando Pezão num segundo mandato como vice-governador, caso a chapa encabeçada pelo governador Sérgio Cabral vença em outubro. Paralelamente, no entanto, ele e Cabral (PMDB) têm um desafio maior: a segurança. Otimista com o alcançado até aqui, Pezão afirma: ¿Sérgio vai entregar o Rio pacificado no final de 2014¿.

O GLOBO: É melhor ser secretário de Obras do que vice-governador?

LUIZ FERNANDO PEZÃO: Dizem que é bom você dar trabalho para vice, ou ele fica conspirando. Só que o Sérgio me deu muito trabalho (risos). Gosto de trabalhar, só não esperava ser secretário de Obras, tocar uma área tão vital, e fazer a interlocução com Brasília. Depois de ser prefeito, eu achava que não teria mais nada para ver na política. Mas descobri um outro mundo, muito maior. Para mim foi muito bom.

O GLOBO: No Brasil dizem que o vice é mera figuração. Qual é a sua participação em decisões do governo?

PEZÃO: O Sérgio sempre me chama para tudo. Ele faz questão e ressalta que eu governo junto com ele. A gente passa mais tempo junto do que com a mulher da gente. É muito forte a interlocução. Em tudo ele me ouve. Todas as decisões, desde as nomeações. Toda vez que vai a Brasília, faz questão de que eu esteja junto.

O GLOBO: As obras do PAC aproximam o governo das comunidades, mas a declaração do governador de que favela era fábrica de bandidos não prejudica essa relação?

PEZÃO: Não. Aquilo foi no calor de uma ação que tinha acontecido. O pessoal recebe muito bem o Sérgio nesses locais, conhece o carinho dele pela população. É impressionante como ele tem uma entrada boa nesses locais, mesmo combatendo o crime.

O GLOBO: Com tanta aproximação com o governo federal, recursos, disposição política, por que o percentual de domicílios com saneamento é tão baixo?

PEZÃO: Avançamos muito nesses três anos e oito meses. A grande dificuldade que tivemos é que a Cedae era uma empresa liquidada. Estava há 15 ou 18 anos sem acessar as fontes de financiamento. Não tinha acesso aos recursos da Caixa Econômica, e isso prejudicou muito a empresa.

O GLOBO: Mas não existiam outras fontes?

PEZÃO: Não. O governo não tinha nem capacidade de endividamento. A gente só conseguia dinheiro para metrô. Além de retomar obras de saneamento (Sistema da Barra, Estação Alegria), estamos num esforço de maior investimento por parte da Cedae.

O GLOBO: A rede estadual de educação sempre vai mal no Ideb, com resultados pífios. Como se explica isso?

PEZÃO: Acho que vai melhorar. Não vejo outra maneira de motivar o aluno se não for com muita modernidade. Sou totalmente favorável à tecnologia da informação na educação. Há escolas no meu município (Piraí) que, depois que demos um laptop para cada criança, já estão batendo 6,4 no Ideb. O maior legado que podíamos deixar seria universalizar a tecnologia da informação para a educação. Temos conversado com o Banco Mundial. Estou batalhando com a Teresa Porto (secretária de Educação) por um laptop para todos os alunos e para preparar os professores.

O GLOBO: Na saúde, o senhor acha que avançou só com as UPAs?

PEZÃO: Quem vai ajudar muito nisso é o Eduardo (Paes, o prefeito). Na minha cidade havia 100% de cobertura do Saúde da Família. O dia em que consegui universalizar, acabei com as filas do hospital. O Rio tinha uma cobertura de 3%, e o Eduardo, em um ano e pouco, já triplicou o atendimento. Se a gente não chegar pelo menos a 30%, não adianta ficar sonhando que vai melhorar. O que aconteceu com as UPAs? Elas estão pegando muita gente dos hospitais que fecharam, como o do Fundão. Elas não são a solução; elas complementam. A solução é o atendimento primário. Acho que as Clínicas da Família ¿ o Eduardo vai construir 70 ¿ vão dar uma aliviada nas UPAs e nos hospitais.

O GLOBO: O que está sendo feito em relação à segurança no interior, especialmente nas cidades para onde o crime pode migrar?

PEZÃO: Nada do que tem sido feito aqui impactou os índices do interior. Não está havendo movimentação. Estamos monitorando, e cada vez mais com inteligência. Se tiver uma ajuda maior, principalmente da Polícia Rodoviária Federal, podemos cercar tranquilamente a entrada de armas no Rio.

O GLOBO: Há, então, uma responsabilidade do governo federal ainda não assumida?

PEZÃO: Acho que o Rio tem que ter um tratamento diferenciado. Não dá para uma cidade que foi capital do país perder tudo e não ter compensação nenhuma. Se o estado não tivesse petróleo, estaria quebrado.

O GLOBO: O Centro de Comando e Controle da Polícia ia ser instalado em dezembro passado, e até agora nada...

PEZÃO: É uma das dificuldades que deixam o Mariano (José Mariano Beltrame, secretário de Segurança) maluco. Ele não pode entrar no Pavão-Pavãozinho sem uma instalação para o policial comer, descansar numa troca de turno. Pegamos um prédio lá, mas aí você manda para o Tribunal de Contas analisar edital, fazer licitação... Já tem recursos, mas já temos oito meses de espera. É burocrático. É muito difícil. É da lei, mas tem muita coisa prendendo...

O GLOBO: Qual é o desafio para um segundo mandato?

PEZÃO: Quero ajudar o Sérgio a continuar com a urbanização das favelas, que é a maior demanda que tenho. E ver essa cidade pacificada. É possível. Acho que vamos vencer essa guerra. O Sérgio vai entregar o Rio pacificado no final de 2014. Não tenho dúvida. Não é sem droga. Droga existe a nível mundial; ninguém vai conseguir acabar. Mas nós vamos conseguir tirar o fuzil das ruas do Rio de Janeiro.