Título: Retirante se emprega em casa
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 31/08/2010, O País, p. 10

Ambrósio foi ao Sul e a SP, mas agora trabalha em seu Ceará

AS OPORTUNIDADES aparecem também no Rio, onde a publicitária Tatiana Pereira encontrou seu emprego

FORTALEZA e RIO. O carpinteiro Ambrósio Pinheiro Maia, de 53 anos, é um dos casos que vão contribuir para que o Ceará chegue ao seu primeiro milhão de empregos com carteira assinada. Ele já viveu a sina de milhares de retirantes cearenses que precisaram botar o pé na estrada e percorrer milhares de quilômetros na corrida pelo trabalho formal. Numa dessas vezes, foi parar em Santa Catarina, onde, por mais de dois anos, trabalhou nas obras da BR-101.

Sua última parada foi São Paulo, onde ficou por dois anos e três meses como operário do Rodoanel. Com a conclusão da obra e desempregado, retornou em abril para o Ceará. Mas, antes de receber a quarta parcela do seguro-desemprego, conseguiu uma nova colocação no mercado de trabalho. Dessa vez não precisou deixar o estado. Ambrósio está trabalhando na construção do pavilhão de feiras e eventos em Fortaleza, uma obra do governo cearense iniciada no ano passado.

Natural de Tabuleiro do Norte, município do Vale do Jaguaribe, recebeu o convite de um amigo. Com ele, viajaram mais dois para trabalhar na mesma construção. Em São Paulo, aonde Ambrósio foi com a mulher e três filhos, ele ganhava melhor. Mas não gostava de estar longe da sua terra e da casa no interior, para onde pode ir nas folgas no mínimo uma vez por mês.

¿ Não era bom, não. O frio era grande, e a gente vivia de casa alugada. Por uma parte, trabalhar aqui (no Ceará) a gente ganha mais pouco (sic), mas é melhor porque está perto da família ¿ disse.

O impulso na economia cearense evitou outras separações. Antônio Rodrigues, de 54 anos, chegou a entregar currículo e se inscrever na seleção de operários para trabalhar em Angola. Não foi chamado e hoje é colega de Ambrósio na obra de Fortaleza.

As amigas Maria Andrade, de 42 anos, e Valderina Vicente, de 34 anos, viveram de fazer bicos por quase um ano, após serem demitidas do emprego na construção civil. Em setembro de 2009, foram chamadas pela mesma empresa. Ganham mais do que o salário mínimo, trabalhando como emassadoras num prédio em construção no bairro Édson Queiroz, área nobre da cidade. A função delas é colocar rejuntamento entre as cerâmicas e limpar. Nos fins de semana, ainda pegam bicos.

Ao lado de outras quatro mulheres contratadas na semana passada, elas reinam de batom num universo de quase 200 operários. Casadas, dizem que os maridos não se importam. No caso de Marta, o companheiro é bombeiro na mesmo obra.

Parte do dinheiro alimenta a vaidade delas.

¿ A gente compra roupas, perfume. Ninguém vive só de comida. Tem que ter lazer. Vou à praia, a uma festa. Só não vou se não tiver ¿ ri Marta.

Mas as oportunidades não foram focadas no norte ou em empregos de menor qualificação. A publicitária carioca Tatiana Pereira está feliz em seu novo emprego, a agência Kindle:

¿ Estava nos Estados Unidos, onde passei uma temporada me aperfeiçoando. Quando cheguei, em meados do ano passado, senti a crise financeira, não havia vagas. Agora que fui contratada, vejo o mercado mais agitado. (Com Henrique Gomes Batista)