Título: Operação da PF prende superintendente do Incra
Autor: Yafusso, Paulo
Fonte: O Globo, 31/08/2010, O País, p. 13

Waldir Nascimento comandava o instituto no MS; grupo teria provocado prejuízo de R$ 62 milhões à reforma agrária

Especial para O GLOBO

CAMPO GRANDE. Vinte pessoas foram presas ontem durante a Operação Tellus, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul, que desarticulou grupo que teria provocado prejuízo de R$ 62 milhões ao programa de reforma agrária do governo federal. Foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em oito cidades e em Cosmorama (SP).

Entre os presos, estão o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Mato Grosso do Sul, Waldir Cipriano do Nascimento, e Joel José Cardoso, vereador e presidente do Sindicato Rural dos Trabalhadores Rurais de Itaquiraí, município a 410 quilômetros de Campo Grande.

Em nota, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, comunicou as exonerações de Nascimento, do superintendente-adjunto Hélio Rocha, e de Oscar Goldbach, chefe do posto do Incra em Dourados, a 220 quilômetros da capital.

A ação começou ao amanhecer e reuniu 137 policiais.

Segundo a PF, a Operação Tellus é resultado de investigações que começaram em 2007, quando o Incra adquiriu quatro fazendas em Itaquiraí ao custo de R$ 130 milhões. Os 16.926 hectares foram distribuídos em quatro projetos de assentamento, com a demarcação de 1.236 lotes. Em dezembro de 2008, foi feito o sorteio mas, segundo as investigações, de forma irregular, já que as melhores áreas foram reservadas aos líderes dos movimentos sociais.

Também foi descoberta manipulação na distribuição dos lotes.

As investigações apontam que 497 pessoas não habilitadas receberam áreas de reforma agrária, enquanto outras 425 famílias que possuíam todos os requisitos para serem contempladas, ficaram sem receber terras.

A PF constatou venda de lotes destinados à reforma agrária, o que é proibido. A comercialização era intermediada pelos líderes dos assentamentos, e servidores do Incra formalizavam a venda alterando os registros.

Alguns lotes se transformaram em sítios de lazer.

Os advogados de Nascimento informaram que o cliente não tem participação no esquema e distribuíram cópias do mandado de prisão concedido pelo juiz federal de Naviraí, Eurípedes Alves Pinto. A PF e o MPF pediram a prisão preventiva de Nascimento, mas o juiz decidiu pela temporária, válida por cinco dias. No despacho, o juiz alega que conquanto haja indícios de participação dele no crime de quadrilha, não há prova fulcral, até esse momento, que aponte Waldir como coautor de outros crimes, diferentemente do que ocorre em relação aos outros investigados, em que os fatos estão estampados e claros.

Por isso, os outros acusados tiveram as prisões preventivas decretadas. Waldir é irmão do presidente regional do PMDB e candidato a deputado federal, promotor aposentado Esacheu Cipriano do Nascimento.

Em nota, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, informa que o servidor de carreira Manuel Furtado Neves passará a responder pelo órgão em Mato Grosso do Sul. Foi determinada a instauração imediata de auditoria interna para apurar irregularidades e a suspensão temporária do pagamento de créditos aos assentados e de todos os processos de obtenção de imóveis rurais para a reforma agrária.