Título: Recuperação consistente, mas lenta
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Fonte: Correio Braziliense, 04/07/2009, Opinião, p. 20

A retomada da produção industrial brasileira surpreende. Contra uma expectativa de 0,5%, a expansão atingiu 1,3% em maio, quinto mês consecutivo de crescimento. Além disso, espera-se melhora do cenário neste segundo semestre, quando os efeitos das medidas anticíclicas adotadas pelo governo deverão se fazer sentir mais profundamente. Porém, os números não são tão animadores quando comparados aos de 2008. A vertiginosa queda verificada na indústria nos três derradeiros meses daquele ano, da ordem de 20%, está longe de ter sido revertida. E não o será em 2009, como apontam os indicadores e projetam os analistas. Afinal, menos de 8% do embalo perdido foi recuperado até aqui.

A evolução é consistente, progressiva, mas lenta. Embora o alívio de alguns entraves internos, como as pesadas cargas tributária e de juros, e uma melhora da balança comercial em junho, não se pode desprezar sinais nada estimulantes ainda emitidos pela conjuntura global. Um deles, a piora do mercado de trabalho na União Europeia e nos Estados Unidos. Nos 16 países que compõem o bloco do euro, o desemprego chegou ao maior patamar em uma década, 9,5% em maio, somando 3,4 milhões de desempregados em 12 meses. Na potência americana, as vagas perdidas chegam a 14,7 milhões e a taxa também está em 9,5%, um recorde desde agosto de 1983. A China, ao contrário, já se refaz, mas não é suficiente para suprir as lacunas.

Para além das imediatas consequências práticas, notícias de desemprego costumam ter considerável efeito psicológico sobre o consumo e, por tabela, a produção e os investimentos. Mostram que não está controlado o incêndio da crise iniciada com a propagação norte-americana de títulos imobiliários podres. Focos continuam a arder mundo afora. Queimam expectativas e projetos. O combate é vigoroso, mas os resultados demoram a aparecer. O Brasil não pode esperar. Inaugurava ciclo virtuoso de crescimento quando foi pego no contrapé. Na semana passada, se viu na contingência de ter de prorrogar a vigência dos benefícios fiscais concedidos a alguns setores industriais. O caminho da desoneração foi apontado pelas próprias adversidades.

O problema agora é garantir que a economia volte à plenitude de seu potencial produtivo logo cessem as turbulências desatadas com o colapso do mercado de derivativos norte-americano. A volta ao dinamismo, todavia, exige o impulso de taxas de juros civilizadas e maior alívio na carga tributária. A crise mostrou que aí estão os suportes para assegurar níveis adequados de desenvolvimento e expansão do mercado de trabalho. Não se dispensa, contudo, a redução das despesas correntes do governo e a perseguição de metas de inflação mais baixas.