Título: Banco Central mantém juros em 10,75% ao ano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 02/09/2010, Economia, p. 27
Decisão foi unânime e já era esperada pelo mercado. Expectativa é que Selic permaneça nesse patamar até 2011
A um mês das eleições, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de alta nos juros básicos, iniciado em abril, ao optar ontem pela manutenção da Selic em 10,75% ao ano. A decisão foi unânime e era amplamente esperada, já que o BC deu vários sinais de que estava disposto a acabar com o aperto. O principal argumento é a fraca recuperação da economia mundial, que reduz a demanda e, consequentemente, a pressão sobre a inflação, inclusive no Brasil. Por isso, estima-se que a Taxa Selic permaneça nesse patamar até o ano que vem, pelo menos.
- Parece que o BC está ponderando o cenário interno, que ainda tem forte demanda, com o cenário internacional. Ele pode estar certo - disse o economista-chefe da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa.
Em nota, o Copom afirmou que "não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo" e que vê continuidade do processo de redução de riscos para o cenário inflacionário. E ressaltou que a manutenção da Selic "proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas". O centro da meta é 4,5%.
Nas últimas semanas, o BC tem argumentado que a debilidade da recuperação internacional reduzirá a pressão sobre os preços das mercadorias e serviços. A projeção atual é que a economia global cresça 4,6% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), com avanço de 2,6% nos países desenvolvidos.
Mas o mercado ainda vê luzes amarelas. Póvoa cita os preços de alimentos e a alta nas projeções de inflação a médio prazo. Pela pesquisa Focus do próprio BC divulgada esta semana, a estimativa para o IPCA em 2011 passou de 4,80% para 4,87%.
- Parece que o mercado está um pouco cético de que a medida (de ontem) do BC está correta - afirmou Póvoa.
Por causa disso, especialistas entendem que o BC deverá dar sinais que manterá uma postura de cautela na ata do Copom, a ser divulgada no próximo dia 9. Uma prévia, salientou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, foi dada ontem mesmo, com o Copom afirmando que "neste momento" a Selic a 10,75% é suficiente para garantir a inflação na meta:
- O BC manteve as portas abertas para novas altas.
Houve quem visse, inclusive, reflexos políticos na decisão do BC, devido à proximidade das eleições.
Bancos já reduziram taxas para pessoas físicas
A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) classificou a decisão de equívoco e a Força Sindical, de decepcionante.
Mesmo com o cenário de manutenção dos juros, os principais bancos reduziram no último mês as taxas no crédito às pessoas físicas. Segundo Christian Travassos, da Fecomércio-RJ, eles haviam inflado os juros no começo do ano prevendo inflação galopante e fuga de capitais, com a crise na Europa.
- Os bancos pesaram a mão e estão agora reduzindo suas taxas - explicou.
Segundo o sistema Qualicred, da Fecomércio-RJ, que compila dados do BC, os juros mensais das operações de crédito pessoal foram reduzidos em 0,14 ponto percentual no Banco do Brasil, 0,24 ponto no Bradesco e 0,15 ponto na Caixa no período de 30 dias findo em 19 de agosto. Já o Itaú Unibanco aumentou em 0,02 ponto percentual.