Título: Dilma se reúne com presidente da Colômbia
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 02/09/2010, O País, p. 14

Lula também fala sobre Farc: "Nada justifica o terrorismo como instrumento de luta política", afirmou ele

Chico de Gois, Luiza Damé e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, usou o encontro que teve ontem de manhã com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, para fazer uma espécie de "vacina eleitoral" contra a acusação de suposta relação entre o PT e o governo Lula com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Após o encontro, Dilma afirmou que essas acusações são muito mais um problema levantado por seu adversário José Serra (PSDB) do que uma preocupação do governo colombiano. A reunião foi agendada pelo coordenador de programa de governo da campanha, Marco Aurélio Garcia, que está licenciado da assessoria internacional da Presidência.

- Essa questão das Farc é muito mais do meu adversário do que da Colômbia. A Colômbia tem plena consciência do respeito que o governo Lula teve durante todos esses episódios (de atritos diplomáticos), e o fato de que nós nos distinguimos deles - disse a petista.

Integrantes da campanha de Dilma acreditam que o encontro com o presidente Santos possa neutralizar as afirmações feitas recentemente por Serra e outros integrantes da oposição sobre ligações petistas com a guerrilha colombiana acusada de narcotráfico.

Ao responder a questionamentos da imprensa colombiana sobre qual será o papel do Brasil nas relações com as Farc e a Colômbia, se eleita, Dilma, em sintonia com a posição que Marco Aurélio Garcia iria explicitar horas depois, ressaltou que a presença do Brasil em negociação com as Farc só pode ocorrer por solicitação da Colômbia.

- Nós temos uma posição clara em relação às Farc, inclusive o presidente Santos tem bastante consciência em relação a isso. Nós temos uma posição contrária ao narcotráfico. Portanto, não temos porque participar, a não ser a pedido da Colômbia, de qualquer atividade de pacificação e diálogo com as Farc - disse Dilma.

A candidata petista negou que tenha tratado sobre as Farc com o presidente Santos e classificou o encontro como "excepcional".

Lula também recebe colombiano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também se encontrou com o presidente colombiano, em encontro no Palácio do Planalto, condenou o terrorismo como instrumento de luta política, sem citar as Farc. Os dois presidentes firmaram nove acordos bilaterais durante o encontro.

- Nada justifica o terrorismo como instrumento de luta política. Não somos mais uma região de conflitos, de revolta, de censura. O Brasil é solidário com o povo colombiano em sua luta pela paz, contra a violência. Cabe a nós fazer da América do Sul uma comunidade de nações dispostas a coordenar ações para que todas possam prosperar em liberdade - afirmou Lula ao brindar a visita do presidente colombiano, durante o almoço oferecido a ele no Itamaraty.

Oficialmente o Brasil não considera as Farc um grupo terrorista, porque elas não fazem parte da lista da ONU.

Logo depois da cerimônia de assinatura de atos, no Palácio do Planalto, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmara que o governo não é uma agência de classificação para taxar as Farc como entidade terrorista.

- Essa questão estamos discutindo há oito anos - afirmou Marco Aurélio Garcia.

Ao ser confrontado com o fato de que a candidata Dilma Rousseff admitiu que as Farc são relacionadas ao narcotráfico - embora ela não tenha classificado a organização como terrorista - Marco Aurélio declarou:

- Se a candidata admitiu é um problema da candidata. O governo brasileiro não é uma agência de classificação. Nós temos uma atitude muito severa com relação às Farc, que foram estabelecidas antes mesmo de o governo Lula se constituir - disse Marco Aurélio.