Título: Contrabando tem participação da máfia chinesa
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 02/09/2010, Rio, p. 21

Oito pessoas são presas em operação da PF contra entrada ilegal de produtos da China através de portos do Rio

POLICIAIS FEDERAIS deixam um prédio no Leblon durante a Operação Poseidon: os agentes cumpriram 24 mandados de busca e apreensão

Responsáveis pela Operação Poseidon (deus dos mares, na mitologia grega), deflagrada ontem, policiais federais encontraram indícios de participação da máfia chinesa no núcleo de um grande esquema de pagamento de propina montado no estado, para permitir a entrada no país, através dos portos do Rio e de Itaguaí, de produtos contrabandeados e piratas. Oito pessoas foram presas: três auditores, dois empresários, dois despachantes e um guarda portuário. A PF também cumpriu 24 mandados de busca e apreensão.

Milhões de dólares teriam sido movimentados, no último ano, pela quadrilha, que montou um esquema para corromper servidores públicos, despachantes e empresários. Segundo a delegada Leila Vidal, chefe da Delegacia de Combate a Crimes Fazendários (Delefaz) da PF, o esquema contava ainda com a participação de um policial federal licenciado do Rio.

Agente federal licenciado faria parte de quadrilha

A prisão do agente foi pedida, mas a Justiça não a decretou. Ele seria chefe de um grupo que fazia a escolta de caminhões com produtos contrabandeados e piratas até depósitos no Rio e em São Paulo. Também foi identificado um homem que se fazia passar por policial rodoviário federal. As investigações vão continuar, com a análise de documentos recolhidos.

¿ Era um consórcio criminoso que agia nos portos do Estado do Rio, praticando crimes variados, tanto na importação como no desembaraço fraudulento de mercadorias ¿ afirmou a delegada Leila Vidal.

A quadrilha é acusada de contrabandear centenas de toneladas de mercadorias falsificadas, que vinham da China e, dos portos do Rio e de Itaguaí, eram levadas em caminhões, principalmente para São Paulo. De lá, a máfia chinesa distribuía os produtos para diferentes pontos do país, inclusive de volta para o Rio. A investigação começou em 2009, depois que os policiais federais encontraram contêineres vazios em Bangu.

Estima-se em milhões de dólares o rombo que a quadrilha causou na arrecadação de impostos pela Receita Federal. Em apenas uma operação no ano passado, um empresário teria recebido R$1,6 milhão em dinheiro para ¿alugar¿ o CNPJ de uma empresa sua, legalizada, para a quadrilha. Com o documento, despachantes teriam importado da China várias toneladas de mercadorias. Pelo empréstimo do CNPJ, os empresários cobravam R$20 mil a cada contêiner transportado.

¿ O transporte do contrabando movimentava um grande esquema de propina, que podia variar, dependendo da carga, de R$100 mil a R$170 mil ¿ disse o delegado Ângelo Gioia, superintendente da PF no Rio.

Em quase um ano de trabalho para identificar e prender os responsáveis pela quadrilha, a PF do Rio fotografou e filmou o transporte de mercadorias por caminhões até seu destino. Também interceptou o pagamento de R$170 mil, em dinheiro, de propina a um auditor fiscal, preso ontem. A investigação foi conduzida pela Delefaz e pela Delegacia Especial de Polícia Marítima (Depom), com o apoio da Receita Federal. Os nomes dos presos não foram divulgados pela PF.

Em 2009, PF descobriu galpão com produtos ilegais

Em outubro de 2009, três funcionários da Receita Federal, um empresário, dois receptadores e um motorista também foram presos pela PF, acusados de participação numa quadrilha que desviava mercadorias contrabandeadas apreendidas no Porto do Rio pela Receita. Num galpão no Caju, foram encontrados cerca de R$20 milhões em mercadorias, que seriam distribuídas a camelôs e lojas (com notas fiscais frias).

Dois meses antes, fiscais da Receita Federal já haviam anunciado a apreensão, no Porto do Rio, de dois contêineres com mais de 25 toneladas de produtos contrabandeados da China. Também avaliado em mais de R$20 milhões, o material era o que os fiscais definiram como falsificação de primeira linha ¿ quase perfeita.

oglobo.com.br/rio