Título: Tucanos denunciam operação abafa e querem CPI para constranger governo
Autor: Barreto, Clarissa; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/09/2010, O País, p. 10
Receita já sabia que procuração em nome de Verônica Serra era falsa
BRASÍLIA. Depois que a Receita entrou em contradição para explicar a quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, os tucanos passaram a denunciar uma operação abafa para minimizar o efeito do escândalo sobre a candidatura da petista Dilma Rousseff. Anteontem, o "Estado de S.Paulo" revelou um documento interno da Receita no qual o órgão já falava em indícios de falsificação na procuração atribuída a Verônica Serra.
Enquanto os líderes no Congresso começam a recolher assinaturas para instalar uma CPI, o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge, cujo sigilo fiscal foi devassado na delegacia de Receita em Mauá (SP), disse não ter dúvidas de que o governo luta para evitar que os desdobramentos da investigação alcancem nomes ligados ou que já estiveram relacionados à campanha do PT.
A estratégia tucana é constranger o governo e os líderes governistas no Congresso na reta final da campanha eleitoral. A liderança do PSDB na Câmara dos Deputados encaminhou ofício a todos os presidentes de partidos com o apelo para que apoiem a abertura da CPI. Se obtiver assinaturas de 171 deputados e de 27 senadores, a oposição força uma saia justa para o presidente da Câmara, o candidato a vice de Dilma Rousseff, Michel Temer (PMDB-SP), ou para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Um dos dois seria obrigado a ler em plenário o requerimento que declara aberta a investigação.
- Se o governo diz que quer celeridade na investigação, vamos ver se a prática acompanha o discurso. Quero ver os governistas negarem um pedido que visa acelerar a apuração deste escândalo - afirmou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), autor do requerimento.
Os tucanos, porém, sabem que faltando um mês para o primeiro turno das eleições - e com a ampla maioria governista na Câmara - é praticamente impossível instalar uma CPI ainda em setembro. O PSDB contabiliza a possibilidade de que a disputa presidencial avance para o segundo turno, e que o debate sobre a investigação contamine a campanha em sua fase decisiva.
A CPI também seria uma fórmula para expor os ex-integrantes do núcleo de informações, montado pelo jornalista Luiz Lanzetta na campanha de Dilma Rousseff. O grupo foi desfeito após a revelação de que estava em curso a confecção de um dossiê, supostamente abastecido com informações sigilosas de membros da cúpula tucana e até mesmo de Verônica Serra, como revelou o GLOBO em junho. Como a CPI tem poder de convocação, a ideia seria levar ao Congresso o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, Lanzetta e o jornalista Amauri Ribeiro Junior, que trabalhou para a Lanza Comunicações, empresa que tocava os trabalhos do núcleo de informações.
Enquanto a CPI não sai do papel, o PSDB seguirá na linha do constrangimento ao comando da Receita Federal. Segundo Eduardo Jorge, Cartaxo está obrigado a vir a público para explicar com exatidão a cronologia das informações que comprovaram a fraude na obtenção de cópia das declarações de Imposto de Renda de Verônica Serra. Segundo ele, a cronologia evidencia que Cartaxo já sabia que o acesso tinha sido ilegal enquanto a Receita mantinha a versão de que os dados foram levantados regularmente.
- Não tenho dúvidas de que esse episódio comprova a operação abafa. Os fatos mostram por si - afirmou Eduardo Jorge.