Título: Dilma: houve um malfeito na Receita
Autor: Barreto, Clarissa; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/09/2010, O País, p. 10

Corregedor do TSE arquiva pedido do PSDB para cassar registro da petista; ela acusa tucano de querer vencer no tapetão

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou ontem que seu adversário tucano, José Serra, e os aliados dele estão desesperados e tentam vencer a eleição no "tapetão". Ela voltou a negar qualquer envolvimento com a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB. E classificou a violação dos sigilos como "malfeito", dizendo que a Receita Federal precisa ser preservada:

- O meu adversário, a campanha dele, o partido dele, eu acho que estão desesperados, porque, a cada dia que passa, eles perdem o apoio do brasileiro. Agora, eles estão querendo ganhar no tapetão. Mas não vão conseguir, porque as acusações que eles fazem são falsas, levianas e não têm sustentação jurídica - afirmou Dilma, em entrevista no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

Ontem, o corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Aldir Passarinho, arquivou o pedido de investigação eleitoral contra Dilma feito pelo PSDB. Os tucanos entraram com ação anteontem, pedindo que o TSE investigasse o uso da máquina pública em favor de Dilma, no caso das violações de sigilo fiscal.

Ministro diz que caso deve ser apurado pelo MP

Os advogados do PSDB frisaram ainda que, se o TSE comprovasse a irregularidade, o registro eleitoral da candidata poderia ser cassado, ou seu mandato, caso ela seja eleita. O arquivamento pode ser analisado pelo plenário do TSE, se o PSDB recorrer.

Segundo Passarinho, a representação dos tucanos não demonstra concretamente que a violação dos sigilos tenha beneficiado a candidatura Dilma e desequilibrado a disputa eleitoral. O ministro também argumentou que os fatos devem ser apurados por órgãos competentes, citando o fato de o Ministério Público Federal já estar agindo, e não a Justiça Eleitoral, porque as condutas, em tese, podem ser classificadas como infração penal comum.

Em Porto Alegre, Dilma acusou os seus adversários de, com as acusações contra ela, estarem perdendo a dignidade:

- É muito importante perceber que, num processo democrático, pode-se até perder uma eleição, mas não se pode perder a dignidade e começar a sacar contra pessoas ou instituições. Além disso, subestimando a compreensão do povo brasileiro nesse processo. Nem o povo brasileiro nem a História do Brasil costuma perdoar quem age desta maneira.

A candidata classificou a quebra de sigilo como um "malfeito" que ocorreu na Receita Federal e disse que usar o que ocorreu para destruir uma instituição "é muito perigoso":

- O que pode haver é malfeito, em qualquer instituição pode haver malfeito. Acho que o malfeito tem que ser punido, as pessoas responsáveis têm que ser castigadas, quando apurada sua responsabilidade. Mas a instituição tem que ser preservada. Quando eu digo que não se pode sacar contra pessoas e instituições sem provas, é porque leva a esse tipo de confusão. São órgãos do Estado brasileiro e devem ser respeitados.

Dilma volta a dizer que é alvo de factóides

Como dissera na véspera, Dilma afirmou ser a pessoa "mais interessada do Brasil" na investigação da quebra de sigilo, porque sua campanha estaria sendo prejudicada pelo que chamou de "factoides":

- Sou interessada que a Receita e a Polícia Federal sejam, além de rigorosas, rápidas. Porque é do meu interesse e da minha campanha que se acabe com esses factoides sistemáticos que são levantados contra mim.

Perguntada sobre a demora do governo federal em admitir o vazamento, Dilma disse que a pergunta teria que ser dirigida ao próprio governo; mas afirmou acreditar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva investigará "doa a quem doer" as quebras de sigilo:

- Tenho certeza de que o presidente Lula jamais vai deixar essa questão sem uma apuração até as últimas consequências, doa a quem doer. Eu me sinto hoje a pessoa mais interessada do Brasil, no que se refere a essas investigações. Quem quer que elas fiquem nebulosas é a candidatura adversária, não a minha. Não consigo conter a minha indignação contra essa sistemática acusação sem provas.

Perguntada sobre como gostaria que o governo investigasse a quebra de sigilo contra sua filha, ela respondeu:

- Com o mesmo rigor que com a filha de qualquer pessoa. Seja minha filha, seja de quem quer que seja, são cidadãos que têm que ser respeitados e não podem ter seu sigilo violado.

* Especial para O GLOBO