Título: Valor será diferente para os acionistas
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 03/09/2010, Economia, p. 25

Montante exigido para manter fatia na estatal dependerá de classe de ação

Bruno Villas Bôas, Lucianne Carneiro e Fernanda Godoy

RIO e NOVA YORK. Os acionistas minoritários da Petrobras que possuem ações ordinárias (ON, com direito a voto) ou preferenciais (PN, sem voto) precisarão desembolsar valores diferentes para não verem sua participação reduzida na companhia.

Cálculos do banco suíço UBS e da corretora Link Investimentos apontam ainda que, a curto prazo, o ganho por ação (dividendos e juros sobre capital próprio) na Petrobras tende a ser de 25% a 30% menor para o investidor que não participar da capitalização.

Segundo Osmar Camilo, da corretora Socopa, os investidores que tiverem ações preferenciais terão que aplicar 60% do valor que detêm de nos papéis para não terem a participação reduzida. No exemplo, quem tem um lote de cem papéis (R$2.760 pela cotação do fechamento de ontem) precisará comprar mais R$1.656 em ações.

Já os investidores de ações ON precisarão investir 53% do valor que já possuem nos papéis para não serem diluídos. Ou seja, quem tem um lote de cem ações ordinárias da companhia (equivalente a R$3.124 pela cotação de ontem) precisará desembolsar R$1.655,72.

Para chegar aos números, Camilo considerou que o governo vai fazer a capitalização em etapas. Primeiro, injetar o equivalente a US$25 bilhões em barris na companhia (de um total de US$42,533 bilhões previstos na cessão onerosa). Por esse valor, a oferta de subscrição aos minoritários seria de US$51,1 bilhões.

- Eu acredito os minoritários vão injetar uns US$15 bilhões. O restante será comprado com a sobra de barris do governo e pelo fundo soberano, aumentando a participação do governo - explica Camilo.

Ontem, as ações da Petrobras tiveram forte volatilidade na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis PN fecharam em alta de 2,11%, após oscilarem entre queda de 1% e alta de 4%. Os pequenos investidores venderam ações PNA da Vale (-1,04%) e ON da OGX Petróleo (-2,57%) para entrar na empresa. As ações ordinárias fecharam praticamente estáveis, com ligeira queda de 0,03%.

Alívio no mercado internacional, diz Paulo Vieira da Cunha

Segundo o analista-chefe da Link Investimentos, Andrés Kikuchi, considerando uma capitalização em torno de US$60 bilhões - sendo US$42,533 bilhões da União e o restante em demanda do acionista minoritário -, a tendência é que o investidor tenha ganhos por ação cerca de 30% menores se ficar de fora da operação.

- Isso ocorre porque o capital que entra não gera resultado imediatamente, só mais à frente, mas os ganhos já têm que ser divididos por mais acionistas - afirma.

O pagamento de dividendos (incluindo juros sobre capital próprio) por ação da Petrobras, relativo ao ano de 2009, foi de R$0,95. O montante total chegou a R$8,335 bilhões.

Para Andrés Kikuchi, é possível que investidores que hoje não são acionistas da Petrobras também possam participar da oferta, desde que haja sobras, já que a preferência é dos acionistas atuais.

O analista-chefe da Link Investimentos diz que ainda não é possível afirmar se será interessante para o acionista minoritário participar da oferta, já que faltam detalhes que precisam ser esclarecidos.

O economista Paulo Vieira da Cunha, do fundo de investimentos Tandem, em Nova York, disse que a sensação do mercado foi de grande alívio com o anúncio da operação de capitalização da Petrobras, porque todas as demais IPOs de empresas brasileiras estão na fila e aguardavam uma definição.

- Ficou tudo paralisado, esperando, porque esta é uma operação gigantesca - disse Vieira da Cunha, ex-diretor do Banco Central.

Para ele, o fato de haver uma mudança no regime de concessão é que pode ser problemático. Com o aumento da presença do governo, cresce também o risco para o investidor:

- Aumenta o risco, especialmente levando-se em conta que as agências reguladoras não têm tradição e as administrações de estatais são politizadas.