Título: Investimento de risco tem taxa de retorno bem abaixo da Selic
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 03/09/2010, Economia, p. 25
INJEÇÃO ESTATAL: Projetos financiados com cessão de barris têm ganho menor
Gabrielli admite que 8,83% para a estatal é baixo, mas prevê sinergias
O retorno dos investimentos da Petrobras para explorar e produzir o petróleo da cessão onerosa será inferior aos de outros projetos da própria companhia e foi recebido ontem com pesadas críticas pelo mercado. O governo estabeleceu em 8,83% a taxa interna de retorno (TIR) dos 4,999 bilhões de barris, ganho inferior aos 14% ao ano previsto nos projetos que estão no plano de negócios da estatal para os próximos quatro anos.
Segundo o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), o mercado esperava que os ganhos dos investimentos superassem pelo menos a remuneração de títulos do Tesouro, que pagam os 10,75% da Selic.
- Em tese, o ganho de quem investe em títulos do Tesouro e fica sentado em casa é maior do que o ganho que a Petrobras terá investindo nesses barris - resume.
Gabrielli admite que taxa de retorno não é atraente
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, admitiu ontem que a taxa de retorno de 8,83% nos projetos do pré-sal não é atualmente muito atraente. Em teleconferência com analistas no início da noite de ontem, Gabrielli disse acreditar que, no futuro, graças à sinergia dos vários projetos que serão instalados nos campos e à redução dos custos, o retorno será melhor.
- Evidentemente não é um valor presente alto, essa taxa, mas não é destruidor do capital da companhia. Essa taxa foi calculada com base em um projeto isolado. Mas haverá sinergias entre os vários projetos que reduzirão os custos, além da redução dos custos operacionais da produção. Tudo isso vai permitir uma margem maior, bem acima da projetada hoje com os custos atuais - garantiu Gabrielli.
Antes da teleconferência, o banco de investimentos UBS recomendou aos clientes, em relatório, a venda das ações da empresa. Segundo o UBS, a taxa de retorno "não nos parece bom o suficiente".
Mônica Araújo, da Ativa Corretora, disse que a taxa interna de retorno é "bem baixa", mas acrescentou que será necessário aguardar detalhes sobre a cessão onerosa e a oferta pública de ações da estatal para avaliar o número.
Para justificar o rendimento relativamente baixo do projeto do pré-sal, o ministro Guido Mantega afirmou na noite de quarta-feira que os riscos de exploração seriam limitados pela segurança geológica das reservas. Mantega citou ainda situação econômica do país.
- Quanto menor o risco, menor o rendimento - declarou Mantega.
Mas analistas lembram que as reservas dos campos da cessão onerosa da Petrobras são "prováveis". Isso significa que a quantidade de barris de petróleo que existe nas águas ultraprofundas do pré-sal ainda geram incertezas.
Vazamento no Golfo do México mudou riscos
Segundo um analista que vai participar da oferta da companhia, as futuras estimativas de reservas dos campos incluídos na cessão onerosa podem não se confirmar, o que acarretará novos custos.
- A Petrobras teria então direito às reservas de Perobas, mas isso significaria novos custos - disse ele.
O consultor Adriano Pires lembra que o pré-sal é uma nova fronteira exploratória, e que sua produção depende ainda do desenvolvimento de tecnologias. Isso aumenta o risco do projeto, o que exigiria uma remuneração maior.
- A Petrobras aceitou uma taxa de retorno patriótica - ironiza o consultor.
Além disso, acrescenta que o recente acidente com uma plataforma da BP no Golfo do México vai acirrar as exigências e gastos com segurança na exploração em águas profundas.
Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o setor de petróleo não tem um taxa média de retorno de seus empreendimentos. Essa taxa varia de acordo com o preço do barril de petróleo, os diferentes riscos associados à exploração e possíveis ganhos de eficiência na produção.