Título: Não podemos conviver com idiotices
Autor: Fortes, Heráclito; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2009, Política, p. 3

Primeiro-secretário do Senado sai em defesa das medidas administrativas tomadas pela Mesa Diretora, classifica a atual crise da Casa de política e diz que solução depende dos partidos e do colégio de líderes.

O Senado, administrativamente, está cumprindo a sua parte. Há uma crise política. Essa crise política não pode ser resolvida com a Mesa. Ela terá que ser resolvida com os partidos e com as lideranças Heráclito Fortes, primeiro-secretário do Senado

Apontado semana passada como o ¿zagueiro¿ do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o primeiro-secretário da Mesa Diretora, senador Herálito Fortes (DEM-PI), afirma que a crise hoje é apenas política e que todas as medidas administrativas para enxugar gastos e reestruturar a Casa já estão em curso. Do alto de quem controla hoje esse pedaço do Senado, ele, em entrevista ao Correio, rechaça a ideia de uma comissão de notáveis para executar a tarefa: ¿Seria como o DEM quisesse colocar um bedel para tomar conta dos atos do primeiro-secretário. A ideia foi mal colocada¿, diz ele, torcendo pelo fim da crise e pelo início da CPI da Petrobras.

A semana promete ser decisiva para o presidente Sarney. O que vem de novo na administração da Casa? De novo, são as providências que estamos tomando de enxugamento da máquina, de troca de diretores, estamos reoxigenando o Senado. Os diretores com mais tempo estão sendo substituídos por novos, estamos com outra metodologia. Ontem (quinta-feira), começamos a publicar os atos do Senado no Diário Oficial da União, uma determinação que deveria ter sido feita há mais tempo. O Senado, administrativamente, está cumprindo a sua parte. Há uma crise política. Essa crise política não pode ser resolvida com a Mesa. Ela terá que ser resolvida com os partidos e com as lideranças.

Vem aí o fim do contrato dos terceirizados? Já estamos mudando desde o primeiro dia, com redução de custos e de pessoal. E com objetividade. Estamos fazendo, por exemplo, fusão de empresas. Se tem três, quatro fazendo o mesmo serviço, estamos otimizando esse tipo de coisa. Em relação à parte administrativa do Senado, podem ficar todos tranquilos, porque estamos cumprindo exatamente o que esta Mesa pretende e o que esta Mesa propôs.

E essa comissão de notáveis que foi proposta para ser criada na próxima semana? Não tiraria poderes do senhor e dos demais membros da Mesa? Essa comissão é um veio elitista para a crise. A crise não será resolvida assim. A Mesa está cumprindo o seu papel e os partidos têm os seus representantes. Não sei por que o senador Sérgio Guerra (presidente do PSDB), por exemplo, colocou sob desconfiança o seu colega Marconi Perillo como presidente. Era a mesma coisa que o senador José Agripino, líder do meu partido, quisesse colocar um bedel para tomar conta dos atos do primeiro-secretário. Essa ideia é mal colocada. O que devemos ter é uma comissão, mas aí seria feita pelo próprio colégio de líderes, no prazo que eu pedi, de 90 dias, para que nós da Mesa nos reportássemos, comunicando as mudanças que estamos fazendo, ouvindo sugestões e assim por diante. Não podemos é conviver com bobagens, com idiotices. Por exemplo, o senador José Neri, por quem eu tenho o maior respeito, disse que nós tínhamos excesso de servidores terceirizados. Não está nem acompanhando o que estamos fazendo. Eu propus delegar a ele a tarefa de escolher os servidores que ele quer demitir. É muito engraçado você fazer críticas e não apontar soluções. Estamos num momento em que tem de haver soluções. Afinal, essa crise pertence aos 81 senadores. Ela não pode ser fulanizada nem individualizada.

Haverá uma pacificação da Casa? Não posso prever, mas espero que sim. É preciso que sim. Essa crise está servindo apenas para procrastinar a instalação da CPI da Petrobras, que é importante e fundamental para o país. Não podemos paralisar o Senado.