Título: De mãos dadas contra um acordo
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 03/09/2010, O Mundo, p. 31

TEL AVIV. Enquanto os líderes de Israel e da Autoridade Nacional Palestina (ANP) se encontravam para negociar na capital americana, opositores do processo de paz deixavam claro a milhares de quilômetros de distância, no Oriente Médio, que vão fazer de tudo para minar a assinatura de um acordo. Fawzi Barhoum, um porta-voz do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, afirmou que os recentes ataques a israelenses reivindicados pelo grupo radical demonstram a clara resistência às conversas diplomáticas.

¿ O inimigo sionista deveria deixar nossa terra, nosso povo e nossos locais sagrados. A resistência vai continuar em todas as formas ¿ afirmou o porta-voz do grupo radical palestino.

Os ataques deixaram quatro civis mortos na terça-feira e dois feridos na quarta. Em ambos os casos, as vítimas eram colonos baleados quando se dirigiam, de carro, para assentamentos na região. Ontem, a polícia palestina anunciou a prisão de dois suspeitos de envolvimento no primeiro ataque ¿ 24 horas depois de ter detido mais de 300 afiliados ao Hamas na Cisjordânia. Os policiais também anunciaram ter encontrado o veículo usado pelos atiradores.

Em reação aos ataques, o Conselho Yesha, que representa os quase 500 mil colonos que vivem na Cisjordânia, anunciou ontem a retomada da construção em 80 das 128 colônias judaicas no território ocupado. O conselho já havia decretado o fim do congelamento nas obras no dia anterior, mas apenas em alguns vilarejos. A decisão de ontem ¿ de estender as obras para dezenas de locais ¿ desafia ainda mais o comprometimento anterior do governo israelense de congelar temporariamente a expansão das colônias até 26 de setembro.

Os discursos e apertos de mãos nos Estados Unidos foram transmitidos ao vivo pelas principais emissoras de rádio e TV, mas pouca gente, nas ruas, parecia interessada. Os analistas políticos se dividiram. Alguns disseram que as palavras pareciam sinceras e que havia um clima de otimismo no ar. Outros chamaram o encontro na capital americana de ¿teatro¿.

¿ Foi apenas encenação. Não vi nenhuma intenção verdadeira de alcançar a paz. O que o premier israelense quer é ganhar tempo. E o presidente palestino não tem legitimidade para tomar decisões históricas ¿ afirmou o historiador árabe-israelense Adel Manna, do Instituto Van Leer, em Jerusalém.