Título: Tête-à-tête a cada 15 dias
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 03/09/2010, O Mundo, p. 31

Netanyahu e Abbas concordam em se reunir para negociar pessoalmente saída para o conflito

A SECRETÁRIA de Estado, Hillary Clinton: além de mediar questões espinhosas, manter negociações sob sigilo é outro desafio

Oprimeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, concordaram em prosseguir a rodada de negociações de paz iniciadas ontem, em Washington, nos próximos dias 14 e 15 no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh. Segundo o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, os líderes deverão, a partir dessa data, manter encontros a cada duas semanas, para tentar avançar nas discussões sobre um acordo de paz de forma mais definitiva e duradoura na região.

¿ Abbas e Netanyahu concordaram que as negociações poderão ser concluídas em um ano ¿ acrescentou Mitchell. ¿ Estas negociações podem permitir um acordo final que permita a criação de um Estado palestino e a paz e a segurança para os dois povos.

O assessor americano disse que ¿as diferenças são muitas, são profundas e são sérias¿, e que por isso ¿serão necessárias negociações de boa fé, sinceridade de ambas as partes e a disposição de fazer concessões difíceis¿. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, estará presente à mesa no próximo encontro, daqui a duas semanas, mas não deverá participar de todas as conversas subsequentes.

Na reabertura das negociações diretas entre israelenses e palestinos, na Sala Benjamin Franklin do Departamento de Estado, Hillary procurou assegurar o comprometimento das duas partes:

¿ Senhor primeiro-ministro, senhor presidente, vocês têm a oportunidade de encerrar de uma vez por todas este conflito e as décadas de hostilidade entre seus povos. Eu acredito com fervor que os dois homens sentados ao meu lado, que vocês são os líderes que podem tornar esse sonho há tanto desejado uma realidade ¿ disse a secretária.

Teor de conversas futuras será sigiloso

Em seu pronunciamento, Hillary alertou para adversidades futuras e se referiu ao atentado perpetrado pelo grupo islâmico Hamas nas proximidades de Hebron, na Cisjordânia, que matou quatro colonos judeus na última quarta-feira.

¿ Aqueles que se opõem à causa da paz tentarão de todas as maneiras sabotar esse processo, como já vimos nesta semana ¿ advertiu.

Abbas e Netanyahu conversaram a sós durante uma hora e meia numa sala do Departamento de Estado. Depois, se reuniram por cerca de 20 minutos com George Mitchell. Entre os principais pontos de desacordo que deverão ser superados estão os limites de criação de um Estado palestino, o futuro dos assentamentos, o status dos refugiados palestinos das guerras de 1948 e 1967 e a soberania sobre Jerusalém. As declarações de ontem de Netanyahu e Abbas deixaram claro que a missão será complicada e repleta de obstáculos.

¿ Pedimos ao governo israelense que siga em frente com seu compromisso de encerrar toda atividade de assentamentos e suspender completamente o bloqueio à Faixa de Gaza ¿ disse o líder palestino.

Para Benjamin Netanyahu, ¿a paz genuína deve levar em conta as necessidades de segurança de Israel¿.

¿ Não será fácil. Paz verdadeira, paz duradoura será alcançada apenas com concessões mútuas e dolorosas, de ambas as partes ¿ sustentou o premier israelense.

Os palestinos queriam que as negociações fossem retomadas a partir do estágio em que foram interrompidas em 2008 ¿ nos encontros de Abbas com o então primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert. Netanyahu recusou qualquer pré-condição para aceitar a continuidade do diálogo. As conversas diretas foram interrompidas em dezembro de 2008 por causa da ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza. Depois, a ANP se recusou a renegociar enquanto Israel não suspendesse a instalação de assentamentos na Cisjordânia e aceitasse um Estado palestino com as fronteiras anteriores às da Guerra dos Seis Dias, em 1967.

De acordo com George Mitchell, os dois lados concordaram em ¿criar um clima de confiança¿ que possa colaborar para que se alcance um acordo final. Segundo ele, buscará se preservar ao máximo os detalhes das conversas, pois o sucesso do acordo dependerá de se manterem as discussões privadas e tratá-las com ¿a máxima sensibilidade¿.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que o presidente Barack Obama estava animado com a ¿atitude bastante séria dos dois líderes¿, mas acrescentou:

¿ Há ainda diferenças profundas. Há ainda muitos anos de desconfiança a serem superados.

oglobo.com.br/mundo