Título: Reserva de ação da Petrobras começa dia 13
Autor: Bôas, Bruno Villas; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 04/09/2010, Economia, p. 26

Oferta deve atingir R$126,7 bi, recorde histórico. Funcionários da Petrobras terão incentivo para comprar papel

Depois de um ano de expectativa, os investidores interessados em participar da oferta de ações da Petrobras podem enfim fazer suas reservas a partir de 13 de setembro. O prospecto preliminar da capitalização da petrolífera divulgado ontem, antes da abertura do mercado, traz novidades como a chance de até mesmo quem ainda não tem ações da companhia usufruir de prioridade na oferta. A previsão da estatal é que a oferta chegue a R$126,77 milhões, incluindo os lotes adicionais e suplementares de ações e tomando como base os preços dos papéis em 1º de setembro. Funcionários da Petrobras terão uma parcela do total reservada para eles e uma incentivo para compra do papel.

Esta deve ser a maior oferta de ações da História, superando de longe a oferta da japonesa da Nippon Telegraph and Telephone, que levantou US$36,8 bilhões. Com a operação, a Petrobras pretende se capitalizar para fazer frente aos investimentos de US$224 bilhões previstos até 2014, necessários para a exploração do petróleo na camada do pré-sal.

Os investidores podem participar da oferta comprando os papéis com recursos próprios, usando parte do saldo do FGTS - possibilidade restrita aos que já tinham dinheiro nos fundos FGTS-Petrobras, lançados em 2000 - ou por meio dos Fundos de Investimento em Ações (FIA-Petrobras). Neste último caso, com apenas R$200 já será possível acompanhar a oferta.

Na participação direta, o valor mínimo é de mil reais e o máximo, de R$300 mil por pessoa, somando as diferentes formas de participação. Os investidores institucionais, como clubes de investimentos e fundos de pensão, não terão este limite. Os cerca de 90 mil cotistas do FGTS-Petrobras poderão comprar ações com recursos do Fundo, respeitando a proporção de sua atual participação no capital da companhia e o limite de 30% do saldo das contas vinculadas ao FGTS.

A prioridade será dos acionistas da empresa, que terão direito a adquirir 0,342822790 ação por cada uma ação que já detenham. A relação vale tanto para as ações preferenciais quanto as ordinárias. Esta taxa significa que, para manter sua fatia na empresa, o investidor terá que desembolsar 34,2% do montante que detém atualmente. Ou seja, quem tem R$10 mil em ações atualmente terá que comprar mais R$3.420 em papéis para não ter sua participação diluída e, consequentemente, obter menos ganhos com as remunerações distribuídas pela empresa a acionistas, na forma de dividendos e juros sobre capital próprio.

Não acionistas ainda podem participar com prioridade

Para classificar os acionistas, será considerada a posição de ações em custódia em 10 de setembro. No caso da BM&F Bovespa, o prazo entre a compra da ação e o registro de custódia é de três dias úteis. Portanto, para usufruir do direito o investidor precisaria adquirir o papel na próxima segunda-feira, já que terça-feira é feriado no país.

Os cerca de 77 mil empregados da Petrobras terão prioridade na compra de metade das ações ofertadas ao varejo. Os empregados receberão ainda um incentivo da companhia correspondente a 15% do montante adquirido. O dinheiro, uma espécie de reembolso, será depositado na conta corrente do empregado 30 dias após a liquidação da compra.

Mas o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, não se mostrou entusiasmado.

- Estamos céticos quanto à participação dos trabalhadores na capitalização porque será difícil acompanhar o processo. É briga de cachorro grande, não é para operário.

Ontem, os analistas que acompanham o dia-a-dia da empresa entraram no chamado período de silêncio, exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aos participantes da oferta. Mas a avaliação inicial do mercado é de que a operação é complexa.

- Governo, grandes bancos e fundos devem ficar com a maior fatia dessa oferta, mas estamos recomendando aos pequenos investidores que têm direito a participar a aproveitar a oportunidade - diz um operador, acrescentando que as perspectivas de lucros da empresa são boas.

Os preços que serão pagos por cada ação ordinária e preferencial da estatal serão conhecidos em 24 de setembro e não serão necessariamente iguais ao preço negociado em Bolsa. Os bancos coordenadores da oferta - como Merril Lynch, Bradesco, Citigroup, Itaú e Morgan Stanley, entre outros - vão formar o preço com base nos pedidos de reservas, intenções de investidores e cotação do papéis no mercado durante o processo.

Os investidores não saberão quanto pagarão pelas ações quando preencherem o pedido de compra, mas poderão estabelecer um limite que estão dispostos a pagar. E há o risco de os papéis saírem a um preço mais alto do que os que já estão sendo negociados na Bolsa. Em geral, explica Fabio Gallo, professor da Fundação Getulio Vargas, as ações das ofertas são mais baratas que os papéis em circulação, para atrair o investidor.

COLABOROU Ramona Ordoñez