Título: Despesas do governo sobem 2,1%
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 04/09/2010, Economia, p. 24
Em ano eleitoral, gastos surpreendem e analistas temem impacto na inflação
Em ano eleitoral, despesas governamentais bem acima do esperado foram um dos fatores que, na opinião de especialistas, mais contribuíram para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) vir acima das expectativas do mercado. Os gastos da administração pública tiveram alta de 2,1% em comparação com o primeiro trimestre, quando avançaram apenas 0,8%. A LCA Consultores previa alta de só 1,1%. Já em relação ao mesmo período do ano passado, o consumo do governo engordou 5,1%.
Na opinião da economista do Santander Luiza Rodrigues, a alta consistente dos gastos foi um revés nos dados considerados positivos do crescimento do PIB no país.
- É uma má notícia para o PIB potencial. No primeiro trimestre, havia risco de pressão inflacionária, mas diante de um PIB que era puxado por investimentos e que vão virar aumento da capacidade instalada. No segundo trimestre, o gasto maior do governo gera pressão inflacionária - pondera, acrescentando que o país pode experimentar, já no segundo semestre, riscos de aumento da inflação.
Sem gastos do governo, PIB teria sido de 1%
A gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, classificou como naturais os gastos da administração pública no período.
- É um crescimento maior de alguns serviços tanto da parte federal quanto da parte estadual - afirmou.
Mas para o economista-sênior do HSBC Constantin Jancso, as despesas do governo, mesmo em ano eleitoral, vieram bem acima da média dos últimos três trimestres 0,9%).
Jancso calcula que se o consumo do governo tivesse vindo em linha com os resultados anteriores, o crescimento do PIB teria ficado em 8,4% na comparação com o segundo trimestre de 2009, e não em 8,8%.
Já a LCA estima que, sem o consumo do governo, o PIB teria crescido 1% no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, e não a taxa de 1,2% registrada.
Para Jancso, do HSBC, poderá haver uma alta da inflação até o fim do ano que, na sua opinião, deve requerer ação do Banco Central na taxa de juros:
- A demanda como um todo está crescendo bem acima do que a economia oferta. O fato é que o déficit externo já acende uma luz e a médio prazo há risco de inflação.