Título: Uma salada mista
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 05/09/2010, Economia, p. 34
CHRISTOPHER GARMAN NOVA YORK. Christopher Garman, diretor para América Latina do Eurasia, grupo de avaliação de risco com sede nos EUA, define os objetivos do governo com a capitalização da Petrobras como uma salada mista, onde políticas fiscal, de investimentos e ideologia se mesclam. Apesar de a decisão do preço de US$ 8,51 por barril não ter sido exclusivamente técnica, ele acredita que o mercado absorverá o valor.
Fernanda Godoy Correspondente
O GLOBO: Como o senhor avalia as negociações sobre a capitalização da Petrobras? CHRISTOPHER GARMAN: O desfecho revelou um equilíbrio entre os interesses de Petrobras e governo. Nossa visão era que esta não seria uma avaliação exclusivamente técnica.
Há conflitos entre os interesses corporativos da Petrobras e interesses fiscais do governo.
Na Petrobras, a preocupação era com uma avaliação que o mercado visse como justa para levantar o máximo de recursos para as ambiciosas metas de investimento da empresa com a exploração do pré-sal.
O valor médio de US$ 8,51 será bem aceito no mercado? GARMAN: Ainda é cedo para dizer. O valor será visto como alto, mas haverá interesse. Este valor já estava precificado pelo mercado antes do anúncio. Houve um alívio pelo simples fato de a incerteza sobre qual será o preço do Brasil ter sido eliminada.
O governo pretende aumentar a sua participação? GARMAN: Os objetivos dessa capitalização são uma mistura, uma salada mista. Há uma visão pragmática, que o governo compartilhou com a Petrobras, para levantar capital de investimento.
O objetivo primordial não é elevar a participação do governo, mas há, no governo, os que querem o aumento, maximizar o efeito fiscal. E há aqueles que gostam da participação, que a veem como um efeito colateral positivo.
Qual é a influência do calendário eleitoral? GARMAN: No início do ano, os investidores estavam dispostos a acreditar que seria tudo feito de forma exclusivamente técnica, mas essa visão foi se diluindo com os atrasos. Os investidores acreditavam no preço de US$ 3 a US$ 4. Mas houve exageros nas especulações.
Após o governo atrasar a capitalização para setembro, especulou-se que ele quis puxar o valor para cima para maximizar as chances da candidata Dilma Rousseff. Mas não acredito nisso.
O governo Dilma pode ser mais intervencionista? GARMAN: Vamos ter a continuidade das diretrizes de Lula.
No petróleo, a implementação do modelo que está no Congresso, com supremacia da Petrobras, operadora única.
Ela terá de rever para cima os investimentos, capitalizar-se de novo. No governo Dilma, a Petrobras estará cada vez mais integrada à política industrial.