Título: Campanha nas asas do Planalto
Autor: Fabrini, Fábio; Alvarez
Fonte: O Globo, 05/09/2010, O País, p. 3
Ministro e assessores usam PAC e conselhão para viajar e ajudar Dilma, com gastos pagos e Regina BRASÍLIA
Instalada no quarto andar do Palácio do Planalto, uma máquina trabalha a todo o vapor pela candidata do governo, Dilma Rousseff (PT). A rede montada na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, comandada pelo ministro Alexandre Padilha, utiliza duas agendas: do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que dão suporte e aparente legalidade às viagens de petistas que percorrem o país angariando votos nos estados junto a prefeitos, empresários e outros segmentos da sociedade, com diárias pagas pelos cofres públicos.
O ritmo de viagens é frenético. Somadas, chegam a 44 as andanças do ministro Alexandre Padilha e de dois dos seus principais assessores entre o fim de maio e agosto. Como justificativa oficial, as reuniões do Conselhão (CDES) nos estados, que começaram a ser feitas em maio para discutir com empresários uma Agenda para o Novo Ciclo de Desenvolvimento.
E encontros com prefeitos para discutir projetos do PAC-2, a ser implementado no próximo governo, além de visitas às obras do PAC.
Por si só, essas agendas, que servem para divulgar realizações e avanços do governo Lula, têm implícitas um viés político, já que acontecem no auge da campanha eleitoral.
Mas, além disso, compromissos oficiais nos estados coincidem com eventos de campanha da candidata Dilma ou de aliados do PT.
As viagens, as articulações e os atos da campanha estão registrados no Twitter. Padilha, tuiteiro compulsivo, escreveu no dia 15 de julho, quando estava em Curitiba (PR) para uma reunião do CDES e visitas a obras do PAC: ...Recebi a visita, aqui no Hotel Slaviero, do nosso cand a gov do PR Osmar Dias, do nosso vice Rocha Loures e nossa futura senadora Gleisi (mulher do ministro do Planejamento Paulo Bernardo). Padilha recebeu R$ 780 nessa viagem, equivalente a uma diária e meia, segundo a assessoria.
Braço direito de Padilha na SRI, o subchefe de Assuntos Federativos (SAF), Olavo Noleto o homem que comanda a liberação de emendas parlamentares no governo esteve em Curitiba entre os dias 30 de junho e 2 de julho. No dia 1o, reuniu-se com mais de 360 prefeitos para discutir os investimentos do PAC-2.
Um dia antes, um evento político de peso dominou a agenda paralela: o acordo do senador Osmar Dias com o PT e PMDB para concorrer ao governo do estado. No dia 30, às 11h35m, Noleto escreveu no Twitter: ...Curitiba tá muito fria! Aqui fechamos grande acordo com osmar dias, requião e gleyse para o Senado!!.
Noleto recebeu R$ 963,55 em diárias na viagem a Curitiba. A SRI informou que Noleto saiu de Brasília no dia 30 e só voltou no dia 2 de julho, em função de não haver vôos disponíveis compatíveis com os horários de início e término da reunião.
Sem esconder o entusiasmo com a agenda de trabalho combinada com a campanha, Noleto tuitou no dia 22 de junho, às 18h14m, a caminho de sua terra, Goiás, onde integra o diretório do PT, sobre obras do pacão e convenção do ptzão. Nessa viagem, Noleto recebeu R$ 263,18 de diária relativa ao dia 24, segundo o Portal da Transparência.
O ministro Padilha esteve no Rio entre 22 e 24 de julho. Na agenda oficial, reunião do Conselhão no dia 22; visitas a obras do PAC em Mesquita, Nilópolis e Belford Roxo, inauguração de obras do PAC em São Gonçalo e reunião com prefeitos no dia 23. Padilha recebeu R$ 1.452,50, equivalente a duas diárias e meia.
Olavo Noleto e o chefe de gabinete de Padilha, Mozart Tabosa Sales, o acompanharam, também com diárias pagas pela Presidência.
No dia 24, sábado, Padilha participou de ato do PP. Às 13h20m, escreveu no Twitter: Saindo do ato do PP. Dorneles: o PP é Dilma, Cabral, Piciani e Lindberg. Isso aí Márcio Fortes,estamos juntos.
Entre maio e agosto, foram realizadas 16 reuniões do Conselhão fora de Brasilia, mobilizando empresários de quase todo país. O mesmo aconteceu com as reuniões com prefeitos para discutir os projetos do PAC-2.