Título: Dilma: Receita não pode ser fragilizada
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 06/09/2010, O País, p. 10

Petista atribui apoio de Collor a um "problema da liberdade democrática" e diz que sua história é bem diferente da do ex-presidente

BRASÍLIA. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defendeu ontem a Receita Federal e afirmou que a disputa eleitoral não pode comprometer o funcionamento do órgão nem fragilizá-lo. A petista afirmou que, se houve erros, foram das pessoas e não da instituição. A petista afirmou que os responsáveis por esse atos ilegais na Receita devem ser excluídos.

- A Receita tem uma trajetória de serviços prestados e não podemos tratá-la de forma tão leviana. É preciso apurar tudo, mas ter calma também. Se as pessoas erraram, foram as pessoas e não a instituição - disse Dilma, em entrevista na tarde de ontem, no estúdio de gravação de seu programa eleitoral.

Dilma comentou a declaração do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, na semana passada, afirmou que sigilos na Receita sempre foram quebrados. A petista tentou explicar a frase do ministro:

- Acredito que Mantega quis dizer é que não existe nenhum sistema perfeito e que todos são passíveis de serem violados. É fundamental que se tenha rigidez muito grande e fortalecimento da proteção dos dados do sigilo fiscal da população e de milhões de brasileiros. Não é possível conviver com vazamentos. Há que se investigar e punir caso se detecte algum mal feito. E há de se excluir o funcionário também.

Questionada que atitude tomaria nesse episódio da Receita caso fosse presidente, Dilma respondeu:

- Investigo até o último minuto. Até a última virgula.

Dilma critica uso de vídeo de Collor em programa tucano

Dilma Rousseff também falou do apoio que recebe do ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), explorado pelo programa eleitoral de seu concorrente José Serra (PSDB). A petista atribuiu o apoio de Collor à sua candidatura a um "problema da liberdade democrática". Com certo desconforto e um pouco constrangida, Dilma afirmou que sua história de vida é bem diferente da de Collor, que disputa o governo de Alagoas.

- Quero dizer que não tenho a mesma posição histórica do presidente Collor. Agora, se ele quiser apoiar a minha candidatura, é um problema da liberdade democrática. Tenho vários apoios lá (em Alagoas), inclusive do Ronaldo Lessa (candidato do PSB ao governo estadual).

Dilma classificou como um "mecanismo escuso" o uso de um vídeo de Collor, de apoio à petista, no programa tucano. Ela voltou a frisar a diferença entre os dois:

- É público e notório que tenho uma trajetória de vida um pouco diferente da trajetória do presidente Collor.

Sobre a revelação de que também um petista, Gilberto Amarante, está envolvido no acesso de dados sigilosos do tucano Eduardo Jorge em Formiga, Minas Gerais, Dilma afirmou que esse fato teria ocorrido quando nem sua candidatura, nem a de Serra e de Marina Silva, estavam definidas. Amarante teria consultado dados de Eduardo Jorge em abril de 2009.

No caso da Receita, a petista disse que a intriga o fato de pouco ter sido divulgado que o jornalista Amaury Ribeiro Júnior trabalhava para o jornal "Estado de Minas" quando investigava a vida de Verônica Serra. Amaury alega ter feito trabalho de inteligência para a campanha de Dilma.

- Por que ele fez esse levantamento? Nessa época ele trabalhava no "Estado de Minas". Poucas vezes vi isso registrado.