Título: Lula atacou para segurar a vantagem
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 09/09/2010, O País, p. 9

PT decidiu usar presidente para atacar Serra e blindar Dilma temendo efeitos negativos do escândalo da Receita

BRASÍLIA. A participação do presidente Lula no programa eleitoral da candidata Dilma Rousseff, acusando a oposição de baixaria e atacando diretamente o tucano José Serra, foi estrategicamente adotada para tentar estancar os primeiros sinais de mudanças nas pesquisas e garantir a eleição no primeiro turno. Integrantes da campanha de Dilma não admitem queda da petista nas pesquisas internas, mas avaliavam ontem que a operação blindagem já começou a cumprir seu objetivo.

A luz amarela acendeu no comitê de Dilma durante o fim de semana, quando as primeiras pesquisas qualitativas identificaram impacto negativo na campanha por causa do escândalo da violação do sigilo fiscal de tucanos, com envolvimento de militantes petistas, segundo investigações da própria Receita Federal.

Lula fez um pronunciamento de autodefesa depois dos ataques a Dilma e ao governo.

Foi uma resposta ao baixo nível da campanha tucana disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos coordenadores da campanha do PT.

Petistas querem evitar cenário de 2006 Os petistas querem evitar qualquer risco de repetição do cenário da eleição de 2006. Em setembro daquele ano, Lula era grande favorito a ganhar no primeiro turno. Mas, após o escândalo dos aloprados o dossiê de petistas contra tucanos paulistas e a ausência de Lula nos debates na TV, a eleição só foi decidida no segundo turno.

Ontem, as duas campanhas tentavam divulgar números diferentes de pesquisas internas para animar a militância. Enquanto os petistas afirmavam que o quadro era de estabilidade, no PSDB, o tracking diário, segundo integrantes da oposição, indicava que Serra ensaiava uma recuperação, enquanto Dilma começava a cair.

No Twitter, o presidente do PPS, Roberto Freire, aliado de Serra, escreveu: Informações com base em pesquisas internas, há um crescimento de Serra.

Dilma cai, e não foi pequena a queda. Segundo turno à vista.

Estratégia tucana é diminuir vantagem até dia 21 No PSDB, a fala de Lula no programa de Dilma foi vista como preocupação da campanha adversária, mas os próprios tucanos reconhecem que o presidente é arma poderosa.

Por falta de coragem e condições, Dilma se escora na popularidade de Lula para não responder pelas violações de sigilo feitas para beneficiá-la.

Lula foi colocado no programa para blindá-la disse o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA).

A cúpula tucana deflagrou estratégia mais ofensiva para tentar diminuir, em duas semanas, a vantagem da petista de 24 pontos para dez. Caso isso não ocorra até 21 de setembro, a avaliação é que a eleição estará definida em favor de Dilma em 3 de outubro. Para a estratégia ter sucesso, o maior desafio de Serra é melhorar seu desempenho em São Paulo e, depois, no Sul.

Acho que o segundo turno é bem provável e está se confirmando a cada dia. Temos agora um objetivo mais concreto para a campanha afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Segundo Guerra, a violação deu nova motivação à militância do PSDB. O acompanhamento diário indica que Serra começou a recuperar espaço em capitais, como Belo Horizonte, São Paulo e Florianópolis: Qualquer tiro na Dilma, Lula vai para a frente dela. Ele quer blindar Dilma em todas as posições.

Vamos manter essa linha.

Não sei se ganha ou perde voto.

Mas algo é certo: esse escândalo vai manchar a campanha.

A ordem é manter ao máximo o noticiário sobre a violação de sigilos e a elaboração do dossiê, para que o tema possa ser entendido pelo eleitor. Mas há na campanha tucana receio de que não haja tempo suficiente.