Título: Há certeza de bolha no crédito
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 09/09/2010, O País, p. 14

PAULO RABELLO DE CASTRO

O economista Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores, acredita que funcionários públicos federais e servidores inativos têm sido muito beneficiados no governo Lula. Mesmo que esse benefício seja desigual dentro do grupo, a expansão do crédito ajudar a melhorar a percepção de bolso cheio. O especialista também não vê apenas um risco de bolha de crédito: vê certeza.

Maria Fernanda Delmas

O GLOBO: O governo tem sido bom demais com os funcionários públicos? PAULO RABELLO DE CASTRO: O funcionalismo tem sido mais beneficiado que o resto da população.

Os inativos também são bastante privilegiados.

Mas o Brasil ainda não cresce o suficiente para ter essa generosidade toda. E há tremendas injustiças dentro do gasto público, em um governo que se esmerou pela justiça social.

Privilegia quem tem mais.

Que efeito tem no funcionalismo o maior benefício para alguns? RABELLO DE CASTRO: Qual a sensação que o funcionário público tem? Nenhuma.

O alcance do crédito consignado alavancou a capacidade de gastos.

Mesmo o funcionário que foi menos beneficiado teria tido uma percepção de capacidade de compra multiplicada pelo crédito.

Que herança o governo deixa com sua política para o funcionalismo? RABELLO DE CASTRO: Vemos um maior engessamento dos quadros públicos. Determinadas carreiras passaram a ter níveis de remuneração não encontrados no setor privado.

Por que isso causa engessamento? Não há mobilidade de se passar para o setor privado? RABELLO DE CASTRO: Isso. No setor público, uma função deveria estar ajustada para ganhar um pouquinho abaixo do equivalente no setor privado.

No setor público não há tanta incerteza de dispensa, por exemplo.

O senhor tocou na questão do crédito. Vê risco de bolha? RABELLO DE CASTRO: Não há risco de bolha no crédito: há certeza. Saímos de um para dez anos de comprometimento de renda futura. Se hoje as famílias não tomassem mais crédito algum, teriam dez anos de aumento da renda comprometido com o pagamento das dívidas. Há muito consumo para pouco investimento.