Título: Dólar tem 6º dia de queda, apesar de leilão do BC
Autor: Bôas, Bruno Villas; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 09/09/2010, Economia, p. 33
Forte entrada de recursos estrangeiros para oferta de ações da Petrobras faz cotação da moeda cair a R$ 1,725
RIO e BRASÍLIA. A gigantesca capitalização da Petrobras, que pode ser a maior da História, amplia seus efeitos sobre o mercado cambial brasileiro, diante da expectativa de entrada no país de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões de investidores estrangeiros interessados em participar da operação. O dólar comercial recuou ontem pelo sexto dia seguido e fechou a R$ 1,725, em queda de 0,12%, apesar de, durante o dia, o Banco Central (BC) ter tentado segurar a cotação.
É o nível mais baixo desde 4 de janeiro. A autoridade monetária fez dois leilões de compra de moeda no mercado à vista o que não acontecia desde 3 de maio deste ano e retirou de US$ 200 milhões a US$ 240 milhões de circulação, segundo estimativas do mercado.
As apostas na queda do dólar estão muito fortes no mercado. O BC está sozinho tentando segurar a moeda explicou Jorge Knauer, diretor do banco Prosper.
Com a confirmação da capitalização no fim de setembro, o mercado ampliou sua aposta em nova valorização do real frente ao dólar. De acordo com o BC, os bancos fecharam agosto com posições vendidas jargão do mercado para designar quando projetam a perda de valor da moeda americana de US$ 13,724 bilhões, 37,2% mais do que em julho, quando estava em US$ 10,003 bilhões. Trata-se do segundo maior volume da série histórica do BC, iniciada em 1994, perdendo apenas para maio de 2007 (US$ 15,79 bilhões).
Nesse quadro, segundo os especialistas, são mínimas as chances de que o dólar fique acima da casa de R$ 1,70 a curto prazo. Os recursos trazidos por investidores estrangeiros vão inundar o mercado com a moeda americana. Além disso, outros agentes de peso no mercado anunciaram recentemente emissões de títulos, como a Vale e o BNDES.
Está todo mundo esperando esse dinheiro entrar e, por isso, o mercado de câmbio não deve mudar até o fim de setembro disse Mário Battistel, diretor da Fair Corretora.
Estrangeiros detêm quase 40% do capital da Petrobras As posições vendidas dos bancos vêm crescendo desde abril passado, quando estavam em US$ 2,984 bilhões. Hoje, os investidores estrangeiros que são acionistas na Petrobras, na Bolsa de Nova York ou na Bovespa, detêm quase 40% do capital social da estatal.
A estabilidade da moeda no patamar próximo a R$ 1,70 ocorre a despeito de o movimento de câmbio entre o Brasil e o exterior estar negativo. O fluxo cambial fechou o mês de agosto com déficit de US$ 680 milhões, e entrou setembro no vermelho: entre os dias 1º e 3 passados, o déficit era de US$ 319 milhões, segundo o BC. No entanto, o fluxo acumula superávit no ano de US$ 3,076 bilhões.
A conta comercial é o principal fator de descasamento entre a quantidade de dólares recebida e enviada ao exterior. No mês passado, fechou negativa em US$ 1,884 bilhão, com exportações de US$ 14,984 bilhões e importações de US$ 16,868 bilhões. Em setembro, o déficit estava em US$ 526 milhões, a partir de exportações de US$ 2,281 bilhões e de importações de US$ 2,807 bilhões.
Já a conta financeira por onde passam os investimentos estrangeiros diretos, em portfolio e as remessas feitas por multinacionais encerrou agosto positiva em US$ 1,203 bilhão e, em setembro, registrava saldo positivo de US$ 207 milhões até a última sexta-feira.
Apesar do resultado negativo do fluxo, o BC continuou atuando no mercado, fechando agosto com compras de dólar no mercado à vista de US$ 3,042 bilhões, o dobro do volume visto em julho (US$ 1,494 bilhão). Nos três primeiros dias de setembro, as atuações chegaram a US$ 157 milhões.
Para Luciano Rostagno, da CM Capital Market, o BC precisará intensificar sua atuação para segurar a cotação da moeda americana.
É cada vez maior a probabilidade de o BC entrar no mercado futuro de dólares para intervir na formação do preço da moeda, o que não acontece desde a crise mundial afirmou Rostagno.
Ações da estatal caem e impedem alta da Bovespa Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras fecharam ontem em queda de 4,44% e as preferenciais (PN, sem direito a voto), de 4,3%. O desempenho fez o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, fechar com perdas de 0,51%, aos 66.407 pontos. Segundo analistas, os investidores decidiram embolsar os ganhos com a alta das ações nos pregões anteriores. Entre 26 de agosto e a última segunda-feira, as ações PN haviam subido 13,2%.
Mesmo com a venda das ações ontem, o investidores da Petrobras que tinham os papéis em carteira na última segundafeira garantiram prioridade na oferta da empresa. As ações vendidas ontem sairão de custódia na BM&F Bovespa apenas na próxima segunda-feira. E, pelas regras da oferta, será preciso ter os papéis em custódia amanhã.
Também pesou na Bovespa o desempenho das ações da Vale, que recuaram 1,88% as PNA e 1,69% as ON. A queda refletiu o temor de investidores de o Partido Trabalhista da Austrália, que venceu as eleições no país, levar a cabo a ideia de taxar mineradoras.
O mercado sentiu o peso da Petrobras e da Vale, mas também foi um dia de ajustes, já que as bolsas recuaram nos EUA na terça-feira, quando não teve pregão no Brasil afirma Kelly Trentin, analista-chefe da Spinelli Corretora.
Entre as maiores altas, as ações da OGX (4,38%) subiram após sucessivas quedas nos últimos dias, quando investidores venderam o papel para comprar ações da Petrobras.
Com o recuo, o Ibovespa descolouse dos mercados globais, que tiveram um dia de ganhos após o governo português anunciar uma bem-sucedida operação de rolagem de dívida. Em Wall Street, o Dow Jones teve alta de 0,45% e o Nasdaq, de 0,90%. Nem a divulgação do Livro Bege do Federal Reserve (banco central americano) azedou o dia, apesar de ter identificado desaquecimento da economia dos EUA.