Título: Apedrejamento suspenso
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 09/09/2010, O Mundo, p. 36

Teerã reavalia sentença de Sakineh, mas comunidade internacional mantém protestos

Correspondente BERLIM

Pouco mais de dois meses após uma intensa campanha mundial pela vida de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana condenada à morte por adultério e envolvimento no assassinato do marido, autoridades suspenderam ontem a sentença de apedrejamento que seria aplicada à mulher. O Ministério das Relações Exteriores voltou a afirmar, no entanto, que o caso não deve ser tratado como uma questão de direitos humanos. O filho de Sakineh, Sajjad Chaderzade, de 22 anos, reagiu logo após o anúncio, apelando à Turquia e ao Brasil para que não deixem de lutar pela libertação da sua mãe.

À líder da Comissão Internacional contra o Apedrejamento, Mina Ahadi, Sajjad afirmou que não via novidade nas declarações da chancelaria. Para ele, seria importante não apenas uma suspensão para a nova avaliação.

Quase quatro semanas depois de ter visto a mãe pela última vez, ele continua preocupado com a situação.

Há três semanas tentam transformar o caso em acusação de assassinato.

Suspender a sentença de apedrejamento não é o bastante. Eles querem ainda executar a nossa mãe. Eu peço à Turquia e ao Brasil que continuem a campanha pela sua libertação afirmou, por telefone.

Celso Amorim vê influência de Lula

O anúncio foi feito à emissora iraniana Press TV pelo porta-voz da Chancelaria, Ramin Mehmanparast. Reagindo aos protestos internacionais, ele ironizou, dizendo que se condenação de assassinos fosse um problema de direitos humanos o Ocidente deveria libertar todos os seus criminosos.

O veredicto em relação ao adultério foi suspenso e está sendo reavaliado, e a sentença por cumplicidade no assassinato está em processo disse Mehmanparast.

A Anistia Internacional chamou de insuficiente a suspensão e anunciou que vai continuar os protestos: Há um risco enorme de que estejam fabricando provas para que possam condená-la à morte e para que a comunidade internacional se desmobilize, destacou Esteban Beltrán, um dos diretores da organização.

No Brasil, o chanceler Celso Amorim falou sobre a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu a Teerã a suspensão completa da pena de morte.

Acho que é positivo que tenha sido suspenso. É apenas um passo.

Sempre atuamos com muito cuidado nisso. A maneira de defender a melhora real das pessoas não é com estridência e nem com a condenação fácil. É mantendo atitude de diálogo, que é o que fazemos.

Não atribuímos só a nós.

Mas as gestões do presidente Lula terão tido um peso no que aconteceu, como teve até hoje.

O Parlamento Europeu também exigiu a suspensão completa da sentença.

Em uma decisão anunciada em Estrasburgo, o Parlamento instou uma avaliação aprofundada do caso, exigindo também a suspensão da pena de morte para condenados de menos de 18 anos, referindo-se ao caso de Ebrahim Hamidi, que foi condenado por homossexualismo aos 16 anos.

*Com agências internacionais