Título: Falsos médicos trabalhariam em 20 hospitais
Autor: Costa, Ana Cláudia; D'Angelo, Rafael
Fonte: O Globo, 10/09/2010, Rio, p. 21

Polícia mapeia unidades na Baixada e na Zona Oeste e já tem lista com 15 pessoas que atuam irregularmente

O HOSPITAL DE Clínicas Belford Roxo, que foi vistoriado pela polícia, pela Vigilância Sanitária e pelo TRE

Ana Cláudia Costa e Rafael D'Angelo

A Delegacia de Repressão a Crimes contra a Saúde Pública (DRCCSP) mapeou 20 hospitais na Baixada Fluminense e na Zona Oeste do Rio onde falsos médicos estariam atuando. De acordo com o delegado da DRCCSP, Fábio Cardoso, a lista inclui hospitais e clínicas particulares e até unidades públicas. Na tarde de ontem, agentes da delegacia realizaram uma diligência em um dos hospitais, mas nenhum falso médico foi encontrado. Entre as regiões onde haveria atuação de profissionais em situação irregular estão Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Nilópolis, além de Bangu, na Zona Oeste.

¿ Já mapeamos os hospitais e recebemos diversas denúncias sobre a atuação de universitários no lugar de médicos. A investigação inclui 15 supostos falsos médicos que estariam atendendo nestas unidades ¿ afirmou o delegado.

Segundo ele, os proprietários de hospitais pagam cerca de 50% a menos para os estudantes. Enquanto um médico recebe mil reais por plantão de 12 horas, os estudantes receberiam R$500.

Polícia investiga 13 óbitos na clínica de Belford Roxo

Pela manhã, policiais e agentes da Vigilância Sanitária estadual realizaram uma vistoria no Hospital de Clínicas Belford Roxo, onde, no último domingo, o ex-estudante de Medicina Silvino Magalhães da Silva, de 40 anos, foi preso em flagrante quando atendia uma paciente. O hospital faz, em média, 500 partos por mês e já havia sido fechado pela Vigilância Sanitária em 2004, mas reabriu em 2007, após passar por reformas.

A vistoria levou duas horas e foi acompanhada pelo dono da clínica, Deodalto José Ferreira. Segundo a Vigilância Sanitária, não foram encontradas irregularidades que levassem à interrupção das atividades do hospital. Durante a vistoria, foram recolhidos 13 atestados de óbito de recém-nascidos e gestantes que morreram entre janeiro e setembro. O delegado informou que vai investigar se a morte dos bebês tem relação com a atuação do ex-estudante de Medicina e de outros falsos médicos.

No domingo, a polícia já havia apreendido com Silvino receitas com carimbos de outros oito médicos, com indícios de que as assinaturas seriam falsificadas. Segundo o delegado, o ex-estudante e o colombiano Félix Jorge Garcia Arozqueta, de 44 anos, que não tem registro para trabalhar no Brasil, também atuariam em outros dois hospitais na Baixada.

Uma denúncia de que o prefeito de Belford Roxo, Alcides Rolim, seria um dos donos do hospital e utilizaria laranjas também está sendo investigada pela polícia. Segundo o delegado, todos os sócios serão chamados para depor. Alcides Rolim não foi encontrado para comentar o caso.

Ontem, a Secretaria municipal de Saúde de Belford Roxo anunciou a realização de uma auditoria no hospital. Já o Conselho Regional de Medicina do estado do Rio (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso e a responsabilidade da direção técnica da unidade na contratação de uma pessoa não habilitada para a função de médico, além da possível participação de médicos no caso.

O proprietário da clínica, Deodalto José Ferreira, foi intimado para depor na DRCCSP na próxima segunda-feira. Ele foi indiciado como coautor de homicídio doloso e fraude processual. Silvino foi indiciado por homicídio doloso, exercício ilegal da profissão e fraude processual. Já o médico colombiano tem até segunda-feira para se apresentar à polícia, senão terá o pedido de prisão solicitado à Justiça.