Título: Servidora suspeita depõe e acusa Receita
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 11/09/2010, O País, p. 13

Ana Maria diz à polícia que Corregedoria do Fisco a orientou a encobrir vazamentos ilegais; corregedor nega

SÃO PAULO. A servidora da Receita Federal Ana Maria Rodrigues Caroto Cano disse à Polícia de São Paulo que foi orientada pela corregedoria do Fisco a obter declarações de 23 pessoas que tiveram o sigilo fiscal violado. O objetivo seria fazê-las afirmar que haviam autorizado o acesso aos dados fiscais, como forma de eximi-la de culpa. Filiada ao PMDB, Ana Maria é uma das servidoras investigadas por acessos imotivados ao Imposto de Renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e de outros tucanos.

A Receita Federal divulgou ontem à noite nota contestando o depoimento de Ana Maria. "A Corregedoria Geral da Receita Federal do Brasil contesta e repudia a informação divulgada pela imprensa de que haveria orientado a servidora Ana Maria Rodrigues Caroto Cano, que está sob investigação, a providenciar qualquer documento para encobrir ou justificar irregularidades cometidas", diz a nota, assinada pelo corregedor-geral do fisco Antônio Carlos D"Ávilla Carvalho.

Segundo o delegado Marcos Carneiro, chefe do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo, a polícia descobriu que Ana Maria e o marido, o contador José Carlos Cano Larios, estavam procurando essas pessoas para assinarem declarações, como forma de apagar os vestígios dos acessos ilegais.

Mas uma dessas pessoas, o aposentado Edson Pedro dos Santos, morador de Mauá, foi à polícia informar que não autorizou ninguém a acessar seus dados, e que foi procurado por Larios para assinar a declaração, na última segunda-feira. Detido, Larios foi ouvido pela polícia, assim como Ana Maria. Depois, os dois foram liberados.

- Quando começou essa reportagem maciça em cima de quebra de sigilo, segundo ela (Ana Maria), funcionários da Corregedoria da Receita Federal orientaram-na a fazer um pedido para que essas pessoas declarassem que (o acesso aos dados) foi por vontade delas. Ela estaria procurando essas pessoas para que elas, ao dar essa declaração, a eximissem de qualquer culpa - disse o delegado, acrescentado que a Polícia Civil informou que enviará o caso à Polícia Federal.