Título: Brossard, o senador que dava autógrafos
Autor: Perboni, Juraci
Fonte: O Globo, 14/09/2010, O País, p. 13

Entre joios e trigos trazidos pela enchente de 74, surgiu Paulo Brossard de Sousa Pinto, eleito pelo MDB gaúcho. Desde logo, marcou posição: a de não ter posição. Nem do lado dos ¿moderados¿ nem dos ¿autênticos¿. Ficava com o que achava justo, do seu ponto de vista político ou jurídico, conforme o caso.

Ninguém estranhava a posição solitária de Brossard. O senador vinha da escola de Raul Pilla, líder maior do PL, que nunca dava satisfação ao partido e a ninguém.

Brossard lotava as galerias e o plenário do Senado, com os seus discursos em série, precisamente em trilogias. Era uma estrela da política.

Vocês não vão acreditar, mas, naquele tempo, político dava autógrafo. Brossard e Marcos Freire, outra estrela do MDB, autografavam seus discursos, verdadeiros best-sellers entre os estudantes, principalmente.

Havia fila na porta do Senado para os grandes embates Paulo Brossard x Jarbas Passarinho. A Câmara parava. Sem exagero, era um verdadeiro Fla x Flu. Os ¿autênticos¿ babavam de admiração por suas críticas ácidas ao presidente Geisel e, no dia seguinte, babavam de ódio, por Brossard ter comparecido a um jantar na embaixada do Chile, por conta de cujo ditador, Augusto Pinochet, Chico Pinto mofava na carceragem da Polícia Federal, em Brasília.

Brossard, dentro do Congresso, era mais respeitado e admirado do que amado. Era mais próximo de Ulyssses Guimarães do que de Tancredo Neves, que, como já foi dito aqui, o preteriu e escolheu Fernando Lyra para ministro da Justiça.

Antes de se chegar à candidatura Tancredo Neves, o PMDB disputou, pela segunda vez, a eleição pelo colégio eleitoral com o general Euler Bentes Monteiro de candidato a presidente e Paulo Brossard a vice.Os discursos veementes de Brossard na campanha constrangiam o general legalista.

Tancredo não tomou posse, e, um ano depois, José Sarney corrigiu a injustiça, e Brossard, finalmente, chegou ao merecido posto de ministro da Justiça, depois do Supremo e do TSE, do qual foi presidente.

Hoje, fora da política, na sua fazenda em Bagé, Brossard deve ter muitas saudades do tempo em que político dava autógrafo e era aplaudido.