Título: No Brasil, ações evitaram recessão de 3%
Autor: Sarmento, Claudia; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 12/09/2010, Economia, p. 34

Estratégia foi da capitalização de bancos públicos a desonerações tributárias

BRASÍLIA. Uma injeção de quase R$ 300 bilhões para estimular a economia durante a crise permitiu que o Brasil se recuperasse rapidamente da turbulência no mercado internacional.

Entre desonerações tributárias que somaram R$ 25 bilhões e capitalizações de bancos públicos (somente o BNDES recebeu R$ 100 bilhões em 2009), o governo conseguiu manter o mercado doméstico aquecido e, segundo cálculos do Ministério da Fazenda, evitou uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3%. A economia fechou o ano passado com uma retração de apenas 0,2% e este ano deve crescer entre 7,5% e 7,8%.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que os demais integrantes dos Brics grupo emergente formado por Brasil, Rússia, Índia e China também conseguiram atravessar a turbulência sem grandes problemas.

China e Índia, por exemplo, não chegaram a ter queda do PIB e mantiveram sua produção industrial em alta. Já a Rússia sofreu mais por ter uma economia fortemente dependente de petróleo e gás, mas já prevê crescimento do PIB para 2010 em torno de 5%. Em 2009, a economia russa desabou 7,9%.

Os quatro países entraram mais tarde na crise e saíram mais cedo. Não foi apenas uma marola, mas todos se reequilibraram e confirmaram seu papel de motor da economia mundial afirma o vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador Marcos Azambuja.

Cerca de 70% do crescimento do PIB mundial em 2010 serão puxados pelos países dos Brics e alguns outros emergentes asiáticos diz o analista da Tendências Raphael Martello.

Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que a inflação indiana fechou 2009 em 14,9%. Na Rússia, esse percentual foi de 8,8%, no Brasil, 4,3% e na China, 0,7%. Para 2010, a expectativa é que a China cresça quase 10% e a Índia, 7,8%.

Segundo os especialistas, as quatro economias disputam espaço no mercado e, por isso, o Brasil precisa agora enfrentar o câmbio valorizado.

Os exportadores estão perdendo mercado e o país já está passando por um processo de desindustrialização diz o professor do Departamento de Economia da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais (Sobeet), Luís Afonso Lima, o caminho a ser tomado pelo governo deve ser o de aumentar a competitividade do Brasil com as reformas tributária e trabalhista.