Título: Economias ainda patinam apesar de US$ 3,4 trilhões em incentivos
Autor: Sarmento, Claudia; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 12/09/2010, Economia, p. 34

Na Ásia, Japão e China são exemplos de países com caminhos diferentes

TÓQUIO, RIO e TESSALÔNICA. O mundo já anunciou pacotes de incentivos de pelo menos US$ 3,4 trilhões em dois anos, mas ainda assim as economias de países desenvolvidos continuam patinando.

O Japão talvez seja um dos exemplos de maior desaceleração, com recuo de mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2009. As economias dos Estados Unidos e da zona do euro saíram da recessão no terceiro trimestre de 2009, mas crescem pouco. Na China, o governo agiu para reduzir o ritmo de expansão e evitar o superaquecimento, mas a economia cresce fortemente.

Ontem, na Grécia, protestos contra as medidas de arrocho adotadas após a crise reuniram cerca de 20 mil pessoas em Tessalônica, onde o premier George Papandreou participava da abertura de uma feira de comércio. Os manifestantes entraram em confronto com a polícia.

No evento, Papandreou sofreu uma tentativa de agressão: um médico de 59 anos tentou atirar sem sucesso um sapato no premier e foi preso.

Papandreou prometeu antecipar de 2014 para 2011 a redução do imposto sobre lucros de empresas, mas não anunciou qualquer alívio para a população: Ou vencemos juntos ou afundamos juntos disse ele.

A menor disposição da população dos países desenvolvidos em consumir, diz o economistachefe da consultoria IHS Global Insight, Nariman Behravesh, leva ao crescimento lento: As famílias, nos EUA principalmente, começaram a poupar mais. O consumidor não está gastando muito.

Na Europa, o economista da LCA Consultores Homero Guizzo aponta dois cenários: o de Alemanha, França e países do Norte, onde há uma certa reação, e o de Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda, por causa das dívidas.

Riscos nos setores bancário e imobiliário chineses Na Ásia, China e Japão são exemplos, respectivamente, dos que resistiram e dos que estão em um beco sem saída. A força da China ajudou outros países, principalmente os exportadores de commodities. Mas o Japão, ainda amargando o estouro de uma bolha nos anos 90, sofreu uma pancada. Com isso, no segundo trimestre, o PIB nominal chinês (US$ 1,3 trilhão) passou o japonês (US$ 1,2 trilhão), tornando a China a segunda maior economia do mundo.

Uma das principais questões é por quanto tempo Pequim pode manter uma expansão anual média de 10%. E há risco de colapso no setor imobiliário e no sistema bancário por causa de inadimplência.

Mas as dúvidas sobre o Japão e sua capacidade de encontrar um caminho que fuja da fórmula dependente de exportações e manufaturas com o iene batendo recordes de valorização são ainda maiores.

A China ainda tem potencial para crescer entre 7% e 8% por uma década ou duas. A mão de obra é relativamente jovem, não se completou a transição do rural para o urbano e vários setores podem se tornar mais eficientes diz Scott Kennedy, diretor do Centro de Pesquisas sobre Política e Economia Chinesa da Universidade de Indiana.

Para o especialista no mercado chinês Edward Tse, da consultoria Booz & Company, houve sem dúvida um deslocamento do poder econômico do Ocidente para o Oriente: É uma tendência significativa, mas os EUA ainda são a maior economia do mundo, e boa parte das companhias líderes globais continuam nos países ocidentais.

Alguns sinais de desaquecimento intensificaram as discussões sobre a sustentabilidade do modelo chinês. No segundo trimestre, o PIB cresceu 10,3% contra quase 12% do primeiro trimestre.

Greves inéditas levaram ao aumento de salários. E o governo teve de reduzir a concessão de créditos.

Instabilidade política no Japão dificulta reformas Já o Japão não consegue passar da média dos 2% de crescimento.

Nos últimos quatro anos, teve cinco primeiros-ministros, e a instabilidade política dificulta ainda mais as reformas.

Os atrativos culturais e tecnológicos do Japão ainda são um ativo essencial. Desenvolvendo um sistema mais dinâmico e efetivo de governabilidade e uma competitividade global mais criativa no setor privado, o Japão garantiria seu sucesso nos próximos anos aposta Sheila Smith, especialista em Japão do Council on Foreign Relations.