Título: Tombo de US$ 17 trilhões
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 13/09/2010, Economia, p. 19

Valor de mercado de bolsas de valores em todo o mundo encolheu e ainda não se recuperou

As bolsas de valores em todo o mundo encolheram US$ 17 trilhões em valor de mercado com a crise das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. Esse valor é a diferença entre a soma de todas as ações dos mercados de 84 países em 30 de outubro de 2007, quando bateram o recorde histórico de US$ 62,2 trilhões, e o fechamento na última sexta-feira (US$ 45,2 trilhões), segundo dados da Bloomberg.

Isso significa que, mesmo com toda a injeção de incentivos dos governos, o patrimônio de milhões de investidores continua abalado pela crise. Nenhuma das principais bolsas recuperou o valor perdido na crise, inclusive a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O mercado no Brasil ainda acumula tombo de US$ 128 bilhões, ainda de acordo com a Bloomberg.

E, segundo economistas, a recuperação dessas perdas segue incerta diante dos recentes sinais de desaceleração em EUA, Europa e Japão. Nenhum descarta um cenário de segundo mergulho ou uma recessão em W, como mostrou reportagem publicada ontem pelo GLOBO.

As bolsas vão se recuperar completamente quando houver um quadro confiável de crescimento.

As empresas terão lucro e as ações atrairão investidores. Mas não há cenário seguro sobre o rumo das economias hoje diz Hugo de Azevedo, superintendente do Santander.

Existe uma tendência de recuperação, mas muita gente ainda vive a crise, que mudou a cabeça de todos. O mercado vinha de anos de fortes ganhos. Era uma onda: quem colocava dinheiro ganhava. Isso acabou completa Hersz Ferman, da Yield Capital.

O divisor de águas foi o colapso do banco Lehman Brothers, que completa dois anos na próxima quarta-feira. Sua falência empurrou as bolsas mundiais que recuavam havia um ano para o fundo do poço. A mínima foi alcançada em 9 de março de 2009, quando o valor de mercado das bolsas chegou a US$ 25,4 trilhões, queda de 60% em relação ao pico histórico.

Bolsas de emergentes têm melhor desempenho

Economistas lembram que o tombo provocado pelo Lehman Brothers foi recuperado. Na última sexta-feira, as bolsas mundiais estavam US$ 500 bilhões acima, em valor de mercado, do pregão que antecedeu a quebra do banco. Mas essa recuperação ocorreu de forma desigual entre os diferentes mercados. Na última sexta-feira, estavam acima do valor de mercado do pregão anterior à quebra do banco as bolsas de Brasil (21,23%), China (65,69%) e Hong Kong (26,66%).

São os emergentes que saíram antes e melhor da crise. Na outra ponta, ainda apresentavam recuo as bolsas de países desenvolvidos, como EUA (10,41%), França (20,06%) e Japão (3,49%).

Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, diz que as bolsas emergentes reagiram melhor graças ao motor do consumo interno e investimento. O mercado de trabalho em países como Brasil, China e Índia foi menos afetado, atraindo investidores: Nos mercados desenvolvidos, por outro lado, os efeitos da crise foram perversos. Os fundamentos permanecem ruins, o que afeta investimentos de risco afirma.

Para Fausto Vieira, da Rio Bravo Investimentos, a recuperação dos emergentes deve continuar mais rápida que os desenvolvidos: Uma nova recessão seria bem complicada.

As bolsas dariam um novo mergulho. Mas acreditamos que elas continuarão se apreciando, passando das máximas históricas de 2007.

Segundo ele, os emergentes surpreenderam mais os investidores, o que nas bolsas pode valer mais que propriamente bons fundamentos: Os países emergentes mostraram números melhores que o imaginado por economistas. Isso anima investidores, atrai capital estrangeiro.

Para Azevedo, do Santander, a crise serviu de aprendizado para os novos investidores: Ficou claro que existem momentos para plantar e colher. Mas um dia pode aparecer um furacão pela frente e você passar fome.