Título: Petrobras: fundos ou compra direta das ações?
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 13/09/2010, Economia, p. 21

Simulação da estatal mostra que aplicação individual não vale a pena para quem vai investir menos de R$ 5 mil na capitalização

A Petrobras abre hoje a temporada de reserva de compra de sua oferta pública de ações, que promete movimentar R$ 127 bilhões este mês, na maior operação do gênero na História.

Quem quer participar da oferta ao varejo da companhia voltada ao mercado em geral, acionista ou não da estatal tem até o dia 22 para fazer os pedidos.

Mas os investidores que ainda têm dúvidas sobre como participar da oferta se individualmente ou via fundos de investimentos precisam ficar atentos: a escolha pode, sim, fazer diferença nos ganhos.

Segundo simulações da Petrobras, quem pretende adquirir menos do que R$ 5 mil na capitalização vai fazer melhor negócio comprando cotas de Fundos de Investimento em Ações da Petrobras (FIA-Petrobras), que serão criados por bancos exclusivamente para a capitalização da companhia. Já para quem quer aplicar um valor igual ou superior a isso, o melhor caminho é procurar uma corretora e reservar individualmente as ações.

Nos cálculos da estatal, que consideram um ganho 10% nas ações no prazo de um ano (previsão apenas para fins de simulação e que pode se confirmar ou não) e a cobrança de 2% de taxa de administração pelos fundos, quem investir R$ 1 mil teria perda se optasse por comprar diretamente ações da estatal. Os gastos com taxas (custódia, corretagem e emolumentos) seriam superiores aos rendimentos brutos e, após um ano, o investidor teria apenas R$ 961,83. Mas, se investisse por meio dos FIA-Petrobras, esse investidor teria R$ 1.066,30 após 12 meses.

Na compra direta, pagam-se taxas e emolumentos Essa diferença está nos custos, e não no rendimento bruto. Os FIA-Petrobras cobram taxa de administração e Imposto de Renda, que sobem proporcionalmente aos ganhos. Na compra direta de ações, os gastos com taxa de custódia, de corretagem e emolumentos sobem em uma proporção menor em relação ao tamanho dos ganhos.

Em uma aplicação em valor igual a R$ 5 mil, chega-se ao fim de um ano com R$ 5.331,50 nos fundos de investimento, mas com apenas R$ 5.326,59 na compra direta de ações. Para investimento de R$ 10 mil, o rendimento líquido dos FIA-Petrobras proporciona R$ 10.663 após 12 meses, e a compra direta de ações, R$ 10.797,20.

Entre os principais bancos, apenas o HSBC confirmou que vai criar um FIA-Petrobras. A instituição cobrará taxa de administração de 1,5%, e o investimento mínimo será de R$ 200, como previsto no prospecto da oferta pública da Petrobras. A Caixa informou que ainda avalia criar um fundo. Bradesco, Santander, Itaú Unibanco e Banco do Brasil não comentaram. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), nenhum fundo FIA-Petrobras foi registrado até a última sexta-feira.

De acordo com Cláudio Carvajal, coordenador dos cursos de Administração da Faculdade Módulo e diretor-executivo da consultoria CPD Consult, os fundos apresentam uma certa segurança ao investidor por ter suas estratégias montadas por um gestor profissional.

Mas é importante lembrar que esses fundos têm uma exposição grande a uma única empresa. É preciso, portanto, diversificar os riscos com outras ações e outras aplicações afirma o professor.

Segundo Leila Almeida, gerente da análise da Lopes Filho & Associados, os investidores que optarem pelos fundos devem avaliar as condições oferecidas pelos bancos: a taxa de administração, as condições para venda das cotas e o prazo que se pretende permanecer nos fundos, o que vai determinar a alíquota do IR na hora do saque.

São fundos basicamente expostos à Petrobras e sem uma gestão muito sofisticada.

Não vai fazer sentido se os bancos praticarem uma taxa de administração alta afirma gerente da Lopes Filho.

Pela regra, os FIA-Petrobras mantêm pelo menos 80% do patrimônio aplicado nas ações da estatal. O restante pode ser aplicado em títulos públicos federais.

Esses fundos investirão apenas em ações preferenciais (PN, sem voto) da companhia.

Carteira de amanhã valerá para segunda data de corte Para os especialistas, um fator que pode pesar contra a opção pelos fundos é a impossibilidade de estipular um preço máximo por ação da Petrobras como condição da eficácia das reservas.

Os investidores terão, portanto, de tatear no escuro, já que o preço das ações será divulgado apenas em 24 de setembro, após o fim do prazo das reservas.

Quem já investe em ações da Petrobras via fundos não vai ter muito o que fazer na oferta prioritária para atuais acionistas da estatal. O gestor vai decidir por participar ou não da operação.

O melhor é ligar e se informar sobre a estratégia. Se o fundo decidir participar, os cotistas precisam depositar 34% do valor que já têm aplicado.

Os acionistas da Petrobras que tinham ações em custódia na última sexta-feira podem fazer as reservas para compras de ações da companhia até a próxima quinta-feira. A quantidade de ações que cada um terá direito a comprar na proporção de 0,342822790 ação por cada uma detida terá como base os papéis em custódia na próxima sexta-feira. Mas especialistas alertam que para ter os papéis em custódia nesse dia, valerá a posição da carteira de ações amanhã. Isso porque a Bovespa leva três dias para registrar a custódia dos papéis.

Os investidores que queiram ter direito a comprar mais ações da companhia com prioridade precisam adquirir mais papéis até terça-feira explica Leila, da Lopes Filho.