Título: Krugman: real forte não é problema sério
Autor: Bôas, Bruno Villas; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 17/09/2010, Economia, p. 33

Nobel diz que câmbio ajuda país a atrair investimentos e projeta alta do PIB de 5%

SÃO PAULO. O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman disse ontem que a valorização contínua do real deve ser acompanhada com atenção pelas autoridades econômicas, mas ainda não é um problema sério para a economia brasileira. Ele reconheceu que a atual cotação do câmbio afeta a competitividade do setor exportador, principalmente as indústrias, mas também ajuda o crescimento do país atraindo investimentos. Para o economista, o Brasil está numa posição bem mais confortável que as grandes economias e tem condições de continuar crescendo a taxas de 5% nos próximos anos.

O real valorizado é uma coisa ruim? Não necessariamente, porque dá ao país mais poder de compra no exterior e também atrai mais capital para os investimentos. Mas naturalmente é ruim para as exportações e para a capacidade de competir das indústrias disse Krugman, durante conferência em evento promovido pela IBM ontem em São Paulo.

Demanda interna permite déficit em conta corrente de 3% do PIB O economista também não vê problema de o Brasil, além da apreciação cambial, ter de conviver com déficits na conta corrente nos próximos anos.

Segundo ele, o forte ritmo da demanda interna permite ao país suportar um déficit em conta da ordem de 3% ou 4% do PIB. Mas a situação ficaria mais séria se o déficit subisse para o patamar de 6% ou 7% do PIB, advertiu.

É algo para se preocupar, mas não um problema neste momento resumiu.

Durante conversa com jornalistas à tarde, pouco antes de embarcar num voo para Nova York, Krugman revelou-se confiante no rumo atual da economia brasileira. Disse ser perfeitamente possível que o país cresça a taxas de 5% nos próximos quatro anos.

Os demônios tradicionais (da economia brasileira) estão sob controle.

A inflação está controlada, a situação fiscal também e a dívida externa não é elevada. E o mercado doméstico parece bastante robusto justificou ele.

O Nobel de Economia de 2008 elogiou também os avanços sociais do país, embora ainda tenha que resolver o problema da educação.

Na era Lula o Brasil não se tornou um paraíso, mas se saiu muito bem investindo na redução das desigualdades e da pobreza. E isso é o que se deve esperar de muitos países disse ele, citando a inclusão de milhões de brasileiros que saíra da condição de pobreza extrema desde 2003.

Para Krugman, a gestão da economia do atual governo foi bem razoável. Ele também não vê riscos de o acirramento das disputas políticas na corrida presidencial afetar o bom momento da economia.

As declarações do candidatos não interferem na economia disse.

Economista prevê baixo crescimento para Estados Unidos Durante sua exposição sobre as perspectivas para a economia mundial, Krugman revelou-se mais pessimista.

Ele previu um cenário de baixo crescimento nos Estados Unidos pelo menos nos próximos seis a sete anos, quadro não muito diferente do que projeta para as economias europeias e japonesa. Segundo ele, depois de adotar ações eficientes no primeiro momento da crise, as autoridades agora vêm falhando nas tentativas de avançar na recuperação dessas economias.

Nos primeiros 18 meses depois do auge da crise, tivemos um sentimento de alívio, as autoridades haviam feito um bom trabalho. Mas agora não dá para ter tanta confiança afirmou ele.

Segundo Krugman, o desafio das economias desenvolvidas hoje é conseguir reativar a demanda, o que exigiria nova ação fiscal maciça dos governos e bancos centrais. E no atual contexto, segundo ele, não se pode apostar nas exportações como aconteceu na recuperação de outras crises.

Precisaríamos de um outro planeta para vender os nossos produtos brincou Krugman, que é professor da Universidade de Princeton.

Krugman afirmou ainda que os Estados Unidos não devem recuperar a condição de pleno emprego em menos de 20 anos.

Escapamos de um colapso, mas as coisas não vão tão bem e ainda podem ficar piores.