Título: Para analistas, é inegável que PT terá maior presença com Dilma
Autor: Martin, Isabela; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/09/2010, O País, p. 12

Ela não tem a força de Lula e pode ficar dependente dos petistas, acham

SÃO PAULO e RIO. As declarações do ex-ministro José Dirceu que disse em Salvador que o PT terá mais poder com Dilma Rousseff eleita do que tem com o presidente Lula, hoje maior que o partido são reflexo de disputa antecipada de poder numa eventual vitória de Dilma.

Essa é a opinião de cientistas políticos que veem fogo amigo na coalizão governista.

A vitória de Dilma não é do PT, é uma vitória do Lula. Isso é inegável. Mas Dirceu tem razão de achar que o PT terá maior presença. Lula fez o que quis com o partido, inclusive o fez engolir a escolha de uma neófita para a sucessão. Dilma é inegavelmente mais fraca que Lula, e os lobos chegarão famintos ao banquete afirma o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos.

Cientista político e sociólogo da UFRJ, Paulo Baía diz que o PT sairá mais forte justamente graças a Lula.

Ele não foi um líder interno do partido, mas, sim, um líder que extravasou as fronteiras dele, o que levou o PT a não ser um PSTU, por exemplo diz Baía, para quem a força do PT também se refletirá no Congresso: Pelas pesquisas que temos visto, o PT formará grande bancada de deputados, pode ter a presidência da Câmara. E isso vai facilitar uma eventual continuidade do projeto do PT na Presidência.

Para o cientista político da UnB David Fleischer, Dirceu busca sair das sombras às quais ficou relegado, devido à pendência do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal: Como articulador dentro do PT, ele continua muito atuante.

Para sair da sombra, de forma legítima, precisa aumentar a importância dele dentro do partido e aumentar a importância do partido dentro do governo diz. Lula, todos sabem, sempre deitou e rolou. E o PT sempre teve de engolir a seco. Dilma não tem essa força toda do Lula, não é uma mãe-fundadora, chegou já pela janela do andar de cima. Por isso, a esquerda escanteada do partido vai tentar de novo, acha que chegou a hora, como pensaram em 2002.

Dilma não tem o carisma de Lula acrescenta Paulo Baía. Então, ela pode ficar mais dependente do partido e dos aliados do que fica Lula Fleischer avalia, porém, que Dilma não ficará tão refém do PT, ou até do aliado PMDB, quanto pensa o meio político.

Ela sabe a cor de todos, já ganhou alguma experiência de como lidar com eles.

Villa, porém, é menos otimista e calcula que Dilma, vitoriosa, pode ser vítima desse sucesso: As primeiras divergências vão aparecer na hora da divisão do butim. E, aí, o próprio Lula fica numa situação difícil. Se ficar, vão dizer que ela é pau mandado. Se cair fora, ela pode ter sérios problemas