Título: Câmara aprova aposentadoria aos 62 anos
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Fonte: O Globo, 16/09/2010, O Mundo, p. 32

Bandeira do governo, reforma da Previdência agora segue, sob protestos, para o Senado

SINDICALISTAS FRANCESES protestam em frente à Assembleia Nacional: anúncio de convocação de uma nova greve geral após a aprovação da reforma da Previdência

PARIS. Motivo de greves e manifestações que paralisaram transportes e outros serviços da França na semana passada, o projeto de lei de reforma da Previdência foi aprovado ontem pela Assembleia Nacional (Câmara Baixa), no primeiro passo para ampliar a idade da aposentadoria no país.

A iniciativa, uma das principais bandeiras do governo de Nicolas Sarkozy, foi aprovada por 329 deputados contra 233, após uma discussão acalorada que se alongou madrugada adentro e teve troca de ofensas, aplausos e vaias. A reforma eleva a idade mínima para se aposentar de 60 a 62 anos, e estabelece em 67 anos a idade mínima para receber a pensão completa, contra 65 atualmente. O tempo de contribuição mínimo passa a ser de 41,5 anos. Segundo o ¿Le Monde¿, caso a reforma seja aprovada, a França terá um dos sistemas mais duros da Europa em relação à aposentadoria.

O projeto de lei segue agora para o Senado, onde será debatido a partir de 5 de outubro. O governo espera poder sancioná-lo já em novembro.

O encarregado de defender a lei foi o ministro do Trabalho, Eric Woerth, envolvido em escândalos de financiamento político e de tráfico de influência no caso L'Oréal. Um parlamentar da oposição, enfurecido com a decisão da mesa de apressar a votação, chegou a chamar Woerth de mentiroso.

A reforma da aposentadoria é fator de grande impopularidade para Sarkozy, cujo índice de aprovação, atualmente, não tem chegado a 40%. Uma pesquisa recente aponta que 57% dos franceses desaprovam a lei e 68% consideram a reforma injusta. Mas apesar da intensa pressão popular ¿ no último dia 7, 2,5 milhões de pessoas foram às ruas para protestar contra a medida ¿ e da posição da esquerda, que votou em massa contra o projeto de lei, o governo não recuou dos pontos-chaves da reforma. Porém, foram concedidas algumas flexibilizações em relação aos trabalhos mais penosos e às carreiras mais longas.

As concessões, no entanto, foram julgadas insuficientes pelos sindicatos, que protestaram em frente à Assembleia e convocaram uma nova greve-geral para o próximo dia 23. Líderes lembraram que, no passado, manifestações populares já impediram que reformas similares fossem aprovadas.

Por sua vez, Sarkozy argumenta que o sistema atual do país é inviável, devido ao aumento da esperança de vida, e lembra que a maioria dos países europeus estão enfrentando mudanças do tipo, inclusive em países com governos de orientação de esquerda.

O Partido Socialista contesta as afirmações. Ségolène Royal, ex-candidata à Presidência pelo partido, afirma que se os socialistas ganharem as eleições de 2012, a idade mínima para se aposentar voltará a ser 60 anos.