Título: Kirchner reavaliam planos
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2009, Mundo, p. 18

Com a apuração dos votos encerrada, o resultado das eleições legislativas na Argentina puxou o tapete do casal Kirchner. A despeito da manobra política de antecipar as eleições, previstas originalmente para outubro, a presidenta Cristina e seu marido Néstor, que encabeçou a chapa governista no principal colégio eleitoral do país, encaram um cenário no mínimo adverso. Na província de Buenos Aires, que concentra 38% do eleitorado nacional e onde os Kirchner se acreditavam imbatíveis, o ex-presidente obteve 32,12% dos votos e perdeu a cadeira de deputado para o empresário milionário Francisco de Narváez, da União-Pro, dissidência peronista que contabilizou 34,57%.

¿Perdemos por pouquinho¿, defendeu-se Néstor, em um esforço para minimizar o revés. Narváez comemorou a vitória sem meias-palavras. Segundo ele, o resultado significa que ¿a má política dos velhos tempos foi derrotada¿. Entretanto, ele se mostrou aberto ao diálogo e anunciou que quer ¿colaborar¿ com a presidente. A boa vontade da oposição não apenas será bem-vinda, mas absolutamente necessária para os Kirchner. O Partido Justicialista (PJ, peronista), núcleo da base governista, não passou de 30% da votação nacional. Com 22 deputados a menos, a maioria absoluta no Congresso escapou às mãos da presidenta, que poderá ficar sem governabilidade na Casa durante os dois anos e meio de madato que tem pela frente.

Os nomes sustentados pelo governo caíram nas cinco principais regiões do país: a província e a cidade de Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé e Mendoza. O Acordo Cívico e Social, de centro, tornou-se o maior bloco opositor não-peronista e terá o maior número de deputados nacionais. A primeira atitude de Néstor, uma vez confirmada a derrota, foi renunciar à presidência do Partido Justicialista. ¿Quando o resultado não é o que se esperava, deve-se ter as atitudes correspondentes¿, afirmou à agência de notícias argentina Telam. Abatido com o desenrolar do pleito, ele anunciou que a renúncia é ¿indeclinável¿ e pediu ao governador da província de Buenos Aires, Mario Scioli, que assuma o comando do partido.

Apesar de o governo ter reconhecido a derrota com tom conciliador, inusual no discurso agressivo do casal, os Kirchner apostaram que o resultado do pleito reforçaria sua força política como ¿donos¿ do peronismo. Néstor é tido pela opinião pública como co-presidente e, assim como a mulher, precisava da vitória para manter vivas as chances de se candidatar às eleições presidenciais em 2011 ou arquitetar a reeleição de Cristina. Com os resultados, o cenário da disputa à Casa Rosada vai se delineando, com o fortalecimento de nomes como o do vice-presidente Julio Cobos, da aliança radical Frente Cívica e Federal, que venceu de maneira convincente na província de Mendoza, e de Carlos Reutemann, ex-piloto de Fórmula 1, reeleito senador na província de Santa Fé pelo partido dissidente Santa Fé Federal. Francisco de Narváez, por sua vez, não pode se candidatar porque nasceu na Colômbia.

O número 22 cadeiras foram perdidas pela base governista nas eleições legislativas de domingo