Título: Simplificando as dietas
Autor: Intrator, Simone
Fonte: O Globo, 19/09/2010, Ciência, p. 41

Os regimes estão mais complexos e o número de obesos se mantém alto

A NUTRICIONISTA Bia Rique, com porções que podem ser substituídas: alimentos secos, como frutas desidratadas, engordam

Ingredientes de nomes difíceis, como estabilizantes e acidulantes, passaram a fazer parte do vocabulário do dia a dia. Rótulos começaram a ser investigados antes de os alimentos saírem das gôndolas para os carrinhos dos consumidores. A matemática deixou de ser uma soma do valor a pagar e se transformou também numa contagem de calorias. Ainda assim, os números da obesidade ¿ e todas as complicações que gera ¿ só vêm aumentando no mundo todo. Ou seja, esse conhecimento, para a nutricionista Bia Rique, não esta sendo útil e poderia ficar restrito aos laboratórios.

Bia, que trabalha há mais de dez anos com nutrição na Clínica Ivo Pitanguy e na Santa Casa de Misericórdia, no Rio, e é a representante brasileira da American Dietetic Association (ADA), acha que o caminho é simplificar. Por isso, lança nesta terça-feira, na Livraria Argumento, no Leblon, o livro ¿Comer para emagrecer¿ (Editora Casa da Palavra), que explora o que ela chama de ¿filosofia nutricional¿, isto é, a maneira como a pessoa se relaciona com a comida. Bia deixa sobrando no prato algumas regras para emagrecer adotadas por muita gente ¿ como comer de três em três horas ¿ e defende a fome como a grande aliada na perda de peso. No livro, há também dicas práticas, um programa de dieta e receitas gostosas e pouco calóricas.

Para também descomplicar a vida dos consumidores, o atual guru da alimentação nos Estados Unidos, o best-seller Michael Pollan, lançou o livro ¿Regras da comida¿ (Intrínseca), com 64 sabedorias básicas, do tipo ¿Só coma alimentos que acabarão apodrecendo¿ ou ¿Evite o que você vê anunciado na televisão¿, para tirar das costas das pessoas (mas não da balança) o peso que as refeições adquiriram.

Pollan diz que comer nos dias de hoje virou uma coisa complicada demais e que não é preciso consultar tantos especialistas para levar pratos gostosos e saudáveis à mesa. ¿Em conjunto, estas regras constituem uma espécie de voz coral da sabedoria alimentar popular¿, explica ele.

Já o novo livro de Bia tem quatro premissas. A primeira é saber ouvir e criar intimidade com o próprio corpo, respeitando-o.

¿ A fome não é uma inimiga, como pensa a maioria das pessoas que faz dieta. Os magros virgens, aqueles que nunca precisaram se controlar na vida, só comem quando têm fome. Quem precisa emagrecer não come só quando tem fome, come também por gula, ansiedade ou compulsão ¿ diz.

Bia explica que no mundo contemporâneo há um excesso de ofertas ¿ externas, como as propagandas sobre os alimentos; sociais, que são as pressões do marido, da vizinha, da sogra para comer mais um pouquinho; e as internas.

¿ Antigamente, o homem caminhava léguas para procurar o seu alimento que não tinha. Hoje ele não anda nada e tem que se proteger do excesso de opções.

Comer salada antes da refeição ajuda a emagrecer

O segundo conceito que Bia defende é ingerir os alimentos que promovem a saciedade e evitar os que dão fome:

¿ Alimentos ricos em fibras e com mais água dão mais saciedade. Recomendo que antes das refeições a pessoa ingira uma salada. Mas ela só vai querer comê-la se estiver com fome. É nessa hora que se escolhe o que o corpo precisa e não o que a gula pede. A porção ideal é muita salada, muitos legumes e uma pequena porção de proteína, também necessária para manter a saciedade por mais tempo.

A terceira recomendação da nutricionista é entender o biotipo de cada um, o que é real e possível, e não o ideal. E a quarta indicação é que a pessoa se permita abusos programados.

¿ Ninguém faz dieta perfeita o tempo todo. E a capacidade do ser humano de abusar é infinitamente maior do que a de economizar calorias. Tem que se programar, saber quais alimentos não são renunciáveis e partir para o cálculo de quando serão possíveis e em que quantidade ¿ diz Bia.