Título: Sarney tenta controlar conselho
Autor: Rothenburg, Denise; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2009, Política, p. 2

Aliados do presidente do Senado insistem em neutralizar ações dos partidos em afastar o peemedebista do comando da Casa

Sarney: decepção com os integrantes do DEM, que ontem cobraram o afastamento do presidente do Senado

Celio Azevedo/Agência Senado - 22/7/05

O Senado era a última resistência. Aqui, derrotamos a CPMF, criamos CPIs. Agora, nem isso Álvaro Dias (PSDB-PR), sobre a crise na Casa

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), encerrou o dia com aliados absortos em evitar que a oposição tenha sucesso nas representações que serão encaminhadas ao Conselho de Ética (1) da Casa. A ordem é evitar a instalação do colegiado antes do recesso parlamentar. E, depois, escolher a dedo os seus integrantes, a fim de controlá-lo. Antes de instalar o conselho, os aliados de Sarney querem deixar o tempo neutralizar o impacto da maior derrota política que ele sofreu ontem, a decisão do DEM cobrando que ele se afastasse do cargo.

Sarney ficou abatido e decepcionado. ¿Chocado¿ com o anúncio dos democratas, conforme revelou um senador. Afinal, acreditava ter uma série de amigos no partido que ajudou a fundar. A decepção foi tal que, no meio da tarde, Sarney cogitou a análise de proposta de afastamento por 60 dias e a nomeação de uma comissão de senadores notáveis, que ficariam encarregados de redigir a proposta de reestruturação administrativa do Senado.

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, ficou de ajudar nessa formatação. A ideia, levada a ele pelo PSDB como uma saída honrosa para aquele momento de dificuldade política ¿ com o DEM, o PDT e parte do PSDB pregando sua licença da Presidência do Senado ¿, fracassou no nascedouro. Tudo porque o líder tucano, Arthur Virgílio, disse aos senadores, no plenário, que o partido fizera a proposta e Sarney recusara.

A ideia inicial era tratar a proposta como de Sarney e não como uma sugestão dos tucanos. E àquela altura, Sarney não havia recusado. Nem mesmo Marconi Perillo, primeiro-vice presidente da Casa, gostou: ¿Eu tenho autoridade e não admito isso¿, afirmou, abrindo uma crise com o presidente do partido, Sérgio Guerra.

Senha A declaração de Arthur Virgílio, no entanto, foi a senha para que Sarney determinasse a seu porta-voz que divulgasse no site do Senado uma declaração reiterando que em nenhum momento cogitou renunciar ao cargo e muito menos a família dele estava o orientando nessa direção. A ordem entre os três filhos, que ontem passaram a tarde ao lado do patriarca no gabinete, é de trabalhar pela história de um chefe de Estado que foi e que não pretende sair da vida pública pela porta dos fundos.

Nessa linha, Sarney conta com o apoio de 17 dos 19 senadores do PMDB, com o PTB, o PR, o PCdoB. O PT faria sua reunião ontem à noite. Tem ainda uma série de votos no PSDB e no DEM, apesar da decisão da bancada, anunciada como unânime, pelo afastamento de Sarney. Só que a reportagem do Correio descobriu que não foi bem assim. Três acabaram contra ¿ Eliseu Rezende (MG), ACM Júnior (BA) e Heráclito Fortes (PI), que hoje administra o Senado. Outros quatro não compareceram, Marco Maciel (PE), Adelmir Santana (DF), Maria do Carmo (SE) e Jayme Campos (MT), que teriam sido consultados por telefone.

Unânime ou não, a decisão do DEM foi a pior derrota de Sarney até o momento. Na reunião da bancada do PMDB, da qual ele não participou, os senadores se referiram à posição do DEM como um ato de traição. Lembraram inclusive, que, nos últimos anos, a administração da Casa esteve nas mãos do DEM, primeiramente, com o senador Efraim Morais (PB). Agora, com Heráclito. E foi dito que, se erro houve, o DEM tem tanta responsabilidade quanto qualquer outro na Casa.

Os peemedebistas desconfiam que o DEM entrou na linha de brigar para tentar fazer com que Sarney renuncie ao cargo a fim de conquistar o poder na Casa, unindo-se ao PSDB e a outros pequenos partidos, uma vez que o PMDB não tem hoje quem se apresente. Por isso, os peemedebistas se aproximaram ainda mais do governo Lula e do PT. Ontem, a senadora Ideli Salvatti foi à tribuna em defesa do presidente Sarney. Agora, a fase é de montar o Conselho de Ética, que terá que decidir se abre processo para analisar a representação que o PSol deu entrada ontem, e dar tempo ao tempo. A 17 dias do recesso, ninguém quer tomar uma atitude precipitada.

1 COLEGIADO DOS PARLAMENTARES O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, no Senado Federal, é composto por 15 titulares e 15 suplentes, indicados pelos partidos políticos. A quantidade de integrantes segue a proporcionalidade das bancadas e dos blocos de apoio formados na Casa. O regimento interno do Senado prevê a posse dos integrantes entre fevereiro e março de cada ano. Contudo, há três meses venceu o mandato de dois anos dos atuais participantes.

E eu com isso?

A crise do Senado influencia diretamente todos os brasileiros. E não é apenas por causa da necessidade de transparência na administração pública. É que os senadores, em vez de dedicar o tempo a tratar dos projetos de lei de interesse da população, perdem horas e dias preciosos avaliando no que essa crise influenciará nas suas carreiras.

Análise da notícia Em busca de um discurso

O discurso do Democratas veio num crescente. O partido está há meses atrás de uma estratégia que lhe permita chegar a 2010 de cara nova para enfrentar o presidente Lula e seus aliados. E, como Sarney é hoje um dos maiores aliados de Lula e está fragilizado, virou um alvo preferencial para a construção desse discurso.

O sonho do DEM hoje é se mostrar como um porta-voz da voz rouca das ruas. Por isso, o que era, até domingo pela manhã, uma ideia de apenas cobrar explicações do presidente José Sarney chegou na terça-feira transformado em afastamento temporário.

O pedido de renúncia, que foi cogitado nos bastidores, não foi levado adiante porque o DEM não desejava um discurso do qual não possa recuar depois. Até porque, nos bastidores, não existe um partido que veja a renúncia de Sarney como algo positivo para a Casa. Se isso ocorrer, qualquer um que sofrer um constrangimento parecido estará pressionado a fazer o mesmo.

Ontem, por exemplo, em conversas reservadas, o PMDB já dizia que espera a representação contra Arthur Virgílio no Conselho de Ética. E, se continuar assim, não vai parar nunca. Afinal, que a tire a primeira pedra o senador que nunca aceitou nem um benefício dos diversos que a Casa ofereceu ao longo da história. E o DEM não quer que se chegue a este ponto. Apenas arrumar um discurso para levar ao eleitor em 2010. (DR e DL)