Título: Dilma diz que, até agora, ainda não viu provas contra Erenice
Autor: Freire, Flávio ; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 22/09/2010, O País, p. 4
Em Salvador, petista diz que ex-ministra a substituiu por critério de Lula
Sem considerar as evidências sobre a existência de um suposto esquema de corrupção envolvendo parentes da ex-ministra e servidores da Casa Civil, a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, disse ontem, em entrevista ao Bom Dia Brasil, da TV Globo, que até hoje não viu prova de ação inidônea da ex-ministra Erenice Guerra. Além da própria Erenice, outras três pessoas já foram demitidas por envolvimento no escândalo das denúncias de tráfico de influência.
Segundo Dilma, faz parte da civilização não acusar ninguém sem provas.
Os apresentadores do programa perguntaram: A senhora trabalhou durante mais de sete anos com a ex-ministra Erenice Guerra. Ela foi seu braço direito.
A senhora nunca notou nenhuma irregularidade? Dilma respondeu: Eu, até hoje, nunca vi nenhuma prova e nenhuma ação inidônea da ex-ministra Erenice.
Isso não significa que, havendo denúncias, elas não tenham que ser apuradas. E eu acredito que ninguém está acima das suspeitas.
Acho que tudo tem que ser apurado. Agora, eu não tenho, até hoje, nenhum conhecimento de um ato inidôneo da Erenice.
Os apresentadores insistiram no tema: Mas, candidata, houve demissão de, pelo menos, quatro pessoas, e o filho de Erenice trabalhava em órgãos da área de influência da Casa Civil.
Parentes da ex-ministra ganharam cargos públicos. A senhora nunca reparou nada? E Dilma disse: Olha, eu não. Eu posso dizer, sim, com absoluta franqueza: eu nunca aceitei nem nomeação de parentes nem nomeação por critérios de amizade. Quem me conhece, eu tenho 25 anos de vida pública...
Por que aconteceu, então? Eu não tenho como responder por ela. Agora, acho que, até onde eu a conheci, ela era uma pessoa bastante idônea.
E acho também que isso não significa que eu esteja defendendo a não apuração de responsabilidades. Eu acho que a maior interessada que se apure tudo sou eu.
À tarde, em Salvador, quando os jornalistas perguntaram se tinha indicado ou pedido que Erenice Guerra fosse sua substituta quando deixou a Casa Civil, Dilma alegou que a sucessão se deu seguindo uma norma do governo Lula: Lembro que no momento da mudança dos ministros, por conta que alguns iriam concorrer à eleição, o presidente Lula definiu um critério: que a sucessão seria pelos secretáriosexecutivos, isso foi generalizado na Esplanada.
Dilma citou até o filósofo francês Charles de Montesquieu para falar do tema: O (ex) ministro Márcio Thomaz Bastos (da Justiça) sempre citava Montesquieu, que dizia que não se pode apostar na virtude dos homens e das mulheres, porque são falhos, você tem que apostar nas virtudes das instituições.
Sem reforçar as instituições, sem mecanismos de controle cada vez mais rigorosos, você terá sem o risco de ocorrer esses episódios.
Cinco dias depois, Erenice deixa conselho da Eletrobras Só ontem, cinco dias após a demissão de Erenice da Casa Civil, a Eletrobras anunciou que a ex-ministra também se desligou do Conselho de Administração da estatal, holding do setor elétrico.
No Bom Dia Brasil, quando a jornalista Míriam Leitão lembrou que o próprio filho de Erenice, Israel Guerra, confessou ter recebido R$ 120 mil para intermediar contratos, Dilma disse que, então, ele tem que pagar por isso.
Mas (se) ele recebeu, ele é culpado. Se ele admitiu que recebeu e se ele acha que aquilo é indevido, ele é culpado. Então, ele vai pagar por isso. Agora, daí a fazer qualquer relação com a minha campanha é que são outras... Quer dizer, são outros quinhentos. Porque a minha campanha não está envolvida com essa história.
Em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem que o problema não está em responsabilizar apenas Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice, mas todo o sistema da máquina pública.
Serra disse que não existe ética individual no PT, mas apenas ética de partido, e que o governo adotou patrimonialismo para conduzir o país.
Depois de um encontro com representantes da classe artística, em São Paulo, Serra primeiro disse que não comentaria o problema da Casa Civil pois, segundo ele, não queria se transformar em cronista diário de problemas no governo.
Mas, provocado, partiu para o ataque: O problema que tem no governo federal não é de filho, é de sistema. O que se armou na Casa Civil, que é o ministério que está ao lado do presidente da República, foi um esquema de quadrilha e de corrupção, isso está claro. Todo mundo tem o direito de se defender, mas não é problema de ser filho não, a coisa vai muito mais longe disse ele, referindose a uma afirmação de Dilma de que não pode responder por atos do filho de alguém