Título: Para segurar dólar, BC comprou em setembro US$ 5 bi, volume recorde
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 18/09/2010, Economia, p. 34
Quantia adquirida entre dias 9 e 16 equivale a um quinto de todo o montante do ano
BRASÍLIA. O Banco Central (BC) acelerou como nunca as compras de dólares no mercado à vista entre os dias 9 e 16, desembolsando cerca de US$ 5 bilhões para frear a desvalorização do dólar frente ao real.
Trata-se de um montante equivalente a um quinto das aquisições feitas nos 251 dias de 2010 até então. O volume bate até mesmo o recorde mensal do ano, registrado em maio, quando as intervenções do BC monetária somaram US$ 4,172 bilhões em 31 dias.
A autoridade monetária tem atuado com mais força no câmbio diante da forte valorização do real frente ao dólar, que está próximo de R$ 1,70. Além de ser um movimento mundial, no Brasil também pesam as expectativas com a entrada de mais moeda americana, até o fim do mês, com a capitalização da Petrobras, que pode atrair entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões.
Custo de carregamento foi de US$ 1,8 bi, segundo o BC Para alguns especialistas, essa atuação mais agressiva do BC pode ter custos fiscais só as compras da última semana podem ter custado quase US$ 400 milhões. Mas eles ponderam também que fortalecer as reservas internacionais é importante para reduzir os riscos do país.
O benefício das reservas elevadas é que, em caso de crise, o país pode enfrentar a falta de liquidez afirmou o economista-sênior do banco Santander, Maurício Molan.
Entre os dias 9 e 16, as reservas internacionais cresceram US$ 4,828 bilhões, uma boa indicação do que o BC tem feito no mercado de câmbio. Ao comprar a moeda americana, a autoridade monetária fortalece o colchão do país que, no dia 16 passado, chegou a US$ 267,185 bilhões. O número não reflete exatamente a ação do BC porque o volume das reservas também é influenciado por rendimentos, já que grande parte dos recursos é aplicada em títulos do Tesouro americano.
Neste ano, o BC comprou efetivamente no mercado à vista US$ 19,420 bilhões até o dia 10 passado, último dado disponível para as aquisições. A quantidade comprada nos últimos sete dias é tão grande que deve superar a de 2009, quando o BC comprou US$ 24,038 bilhões no mercado à vista entre janeiro e dezembro.
O custo oficial das aquisições o chamado custo de carregamento foi de US$ 1,8 bilhão no primeiro semestre, segundo o balanço do Banco Central.
Nos últimos dias, o BC tem feito dois leilões por dia no mercado, comprando entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões diários, conforme relatos dos operadores. Os dados oficiais, no entanto, somente serão conhecidos na próxima semana.
Para professor, país não precisa de reservas tão altas O volume de aproximadamente US$ 5 bilhões adquiridos do fim da semana passada para cá, segundo especialistas, pode ter causado um custo fiscal de pouco mais de US$ 386 milhões. Essa é a diferença entre o rendimento básico das reservas com títulos americanos de dez anos, cujo rendimento hoje é de 2,70% ao ano e o da Selic, em 10,75% ao ano. Não entram nos cálculos outros fatores, como o próprio movimento do câmbio.
Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fernando de Holanda Barbosa, o Brasil não precisa de reservas internacionais tão elevadas, justamente pelo custo fiscal que elas impõem.
Para ele, o fato de o Brasil ter um regime de câmbio flutuante dispensaria o BC de atuar tão fortemente no mercado, como acontece neste momento.
Num sistema de câmbio flexível, o BC entra no mercado quando há bolhas ou muita volatilidade afirmou ele.