Título: Lula e o Senado
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2009, Política, p. 6

Ou seja: para ele, o que está errado no Senado é que exista oposição. O resto deve estar indo bem.

Costuma-se atribuir a alguns políticos opiniões e declarações que ninguém sabe se são de fato deles. Há, até, quem tenha entrado para a história como autor de frases que nunca disse.

Zezinho Bonifácio, Tancredo Neves, Benedito Valadares, dentre outras lendas de nossa política, passaram por esse problema. Embora frasistas eméritos, se tivessem dito tudo que lhes é imputado, não teriam feito mais nada na vida a não ser esperar pela oportunidade de uma frase de efeito.

Hoje em dia, só Lula se parece com essas velhas raposas. Volta e meia, dizem que ele faz avaliações do quadro político que tanto podem ser genuinamente suas, como não. É difícil saber, por exemplo, se não são apenas o jogo de alguém, que põe na boca do presidente o que é de seu interesse.

Tomara que seja esse o caso das recentes opiniões que Lula teria externado sobre o Senado, o PT e Dilma. Seria melhor se ele não pensasse essas coisas.

Segundo a versão corrente, o presidente estaria recomendando a seu partido que se concentrasse em dois propósitos na eleição de 2010. O primeiro e óbvio, na vitória de sua candidata a presidente. O segundo, não tão evidente para quem acompanha a história do PT, nas eleições para o Senado. Para Lula, o melhor dos mundos é Dilma eleita e o Senado com maioria dela.

Para o PT, ele aconselha, portanto, abrir mão das disputas pelos governos estaduais, mesmo onde tem candidaturas viáveis. Pelas especulações da imprensa, isso incluiria até estados onde o PT está no governo, como o Pará e a Bahia, contrariando o que é natural quando existe reeleição. Em outros, como o Rio Grande do Sul, candidatos petistas que lideram as pesquisas teriam que desistir, o mesmo valendo para aqueles onde tem nomes com grandes chances, como Minas Gerais.

Essa prioridade para o Senado significaria, ainda, apoiar com toda ênfase candidaturas de partidos aliados nos lugares onde o PT não tem nomes ou onde o arranjo da chapa majoritária o exigisse. Na Bahia, por exemplo, isso poderia ocorrer, se Geddel aceitasse a vaga ao Senado e Jaques Wagner fosse disputar o governo.

Se essa é uma boa estratégia para o PT (e se ela deve ser aplicada de maneira homogênea em todo o país) é uma questão interna, que só interessa ao partido. O certo é que não foi deixando de disputar eleições majoritárias que o PT chegou aonde chegou e não foi raciocinando dessa maneira que Lula terminou por ganhar a Presidência.

O extraordinário nas opiniões atribuídas a Lula sobre o assunto é outra coisa. A grande motivação para sua concepção sobre o papel do PT na eleição e para a prioridade que destina ao Senado é sua convicção de que é preciso ¿varrer essa gente¿ que lá está, pois, se ela não sair, tem-se que ¿conviver com uma instabilidade constante¿.

Ao ouvi-lo, quem acompanha os escândalos que atingem a Casa talvez se sinta aliviado, supondo que o presidente da República compartilha os sentimentos da maioria do país. Tendo Lula como aliado, quem sabe não se faz mesmo uma boa faxina por lá?

O problema é que o presidente acha, pelo que parece, que o problema do Senado é outro. Quem ele quer ¿varrer¿ são, nomeadamente, senadores como Arthur Virgílio e José Agripino, os líderes do PSDB e do DEM. Em suas palavras: ¿é preciso quebrar a espinha da oposição¿.

Ou seja: para ele, o que está errado no Senado é que exista oposição. O resto deve estar indo bem.

É difícil acreditar que ele deseje para Dilma (e para o Brasil nos próximos anos) um Senado igual ao que tem, menos a presença de alguns senadores da oposição. Mas é isso que se diz.

Talvez esteja se passando com Lula aquilo que ocorria com políticos como os mencionados. Vai ver, ele nunca nem pensou em uma coisa dessas. Tomara.