Título: Com maior oferta de moeda, dólar volta a cair após dois dias de alta
Autor: Bôas, Bruno Villas ; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 22/09/2010, Economia, p. 24
Cotação recua 0,57%, a R$ 1,718. Bolsa tem queda de 0,69%, puxada por Petrobras
Sem sinais de atuação do Fundo Soberano do Brasil (FSB), o dólar comercial recuou ontem 0,57%, para R$ 1,718, após dois pregões seguidos de valorização. Além da maior oferta de moeda no país, causada pela entrada de recursos estrangeiros para a oferta de ações da Petrobras, a indicação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de novas medidas para incentivar a economia americana animou as bolsas e ajudou na queda da cotação.
Ontem, o Banco Central (BC) voltou a fazer dois leilões de compra de dólares no mercado à vista. Mas, para analistas, nada vai impedir a valorização do real nos próximos meses, nem mesmo o FSB. Segundo Luis Eduardo Portella, sócio do Banco Modal, o Fundo vai apenas suavizar o movimento: Em vez de algumas semanas, levará meses para o dólar romper a barreira de R$ 1,70.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a decisão do Fed melhorou o ânimo dos investidores.
O BC americano expressou preocupação com a lenta recuperação da economia e a inflação baixa. E disse estar preparado para fornecer uma política expansionista adicional, se necessário, para contribuir para a recuperação econômica o que analistas interpretam como a compra de bônus do Tesouro americano.
Segundo o diário de negócios britânico Financial Times, o Fed estuda comprar até US$ 2,35 trilhão em ativos.
Mantega: não há patamar para Fundo entrar no câmbio Apesar da ajuda do Fed, o Ibovespa recuou 0,69%, aos 67.719 pontos, devido ao tombo das ações da Petrobras. Os papéis ordinários (ON) da estatal caíram 3,25% e os preferenciais (PN), 2,77%.
Segundo um analista, que pediu para não ser identificado, investidores continuam forçando a queda das ações da Petrobras para obter um preço menor na oferta pública da companhia: As ações tendem a ficar um pouco abaixo do preço atual. Se estão sendo negociadas a R$ 26, ficariam em R$ 25.
A decisão do Fed também levou a um novo recorde do ouro e a uma nova desvalorização do dólar no mundo. A cotação do ouro, que já avançou 17% este ano, bateu US$ 1.291 a onça-troy (31,1g) durante o pregão. Depois recuou, fechando em queda de 0,51%, a US$ 1.272,40. O euro avançou 1,39%, para US$ 1,3246.
Frente à moeda japonesa, o dólar recuou 0,72%, a 85,06 ienes.
Em Wall Street, o Dow Jones fechou em alta de 0,07% e o Nasdaq, em queda de 0,28%. O Fed manteve sua taxa básica de juros entre zero e 0,25% ao ano.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem que o governo trabalhe com um preço de referência do dólar para que o FSB comece a atuar no mercado de câmbio. Segundo ele, a cotação da moeda americana é flutuante, e a decisão do Tesouro Nacional de usar os recursos do FSB para comprar dólares, segurando a valorização do real, depende de vários fatores: Não há referência nenhuma.
O dólar é flutuante. (A atuação) depende da valorização, desvalorização, de uma série de fatores disse o ministro. O Fundo Soberano está habilitado a entrar em leilões de compra de dólares, se for necessário.
Está prontinho para atuar, mas ainda não está atuando.
O FSB foi autorizado a entrar no mercado de câmbio de maneira combinada com o BC.
(*) Com agências internacionais