Título: A trilha minada de Dilma
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2009, Política, p. 7

Para se firmar como candidata do PT à sucessão de Lula, a ministra da Casa Civil depende de barganhas partidárias, sucessos na economia e até de articulações religiosas.

Ciente de sua importância no jogo sucessório de 2010, o PMDB cobra alto para apoiar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Além dos já discutidos e ainda não acertados palanques regionais, a cúpula peemedebista incluiu no dote a indicação dos substitutos de seus ministros que deixarão os cargos para concorrer às eleições do ano que vem. ¿Temos consciência de que é uma atribuição do presidente da República, mas da mesma forma que nos ouviu para indicar os ministros da primeira vez, o PMDB quer essa audiência democrática e respeitosa quando houver as substituições¿, diz o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

No rol dos cargos que o PMDB deseja manter estão os ministérios das Comunicações, de onde sai o ministro Hélio Costa para concorrer em Minas Gerais; o da Integração Nacional, comandado por Geddel Vieira Lima (BA); o de Minas e Energia, de Édison Lobão, candidato ao Senado no Maranhão; e, ainda, o da Agricultura, de Reinhold Stephanes (PR). Na lista do líder, os peemedebistas incluem ainda a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), onde Danilo Forte já esteve várias vezes com o pé na porta de saída, e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), escritório do ex-deputado Wagner Rossi (SP).

Manter os espaços de poder onde o PMDB poderá apresentar a sua marca no horário eleitoral não é o único obstáculo da ministra-candidata para ganhar musculatura e não depender apenas da transferência de votos do presidente Lula. No plano econômico, o maior desafio, avaliam os especialistas, será convencer o empresariado de que a política econômica será mantida e com perspectiva de crescimento significativo. Além disso, o setor quer se certificar da capacidade de gestão da ministra, atributo que a oposição tenta colocar em xeque ao mostrar os modestos percentuais de execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ¿Caberá à mãe mostrar um filho crescido e robusto, sob pena de não convencer o empresariado da sua eficiência como gestora¿, comenta o cientista político Murilo Aragão.

Mãe & filho Para mostrar o PAC com um ar saudável, o governo precisará de recursos. E o cenário de hoje, de queda de receita, pode ficar pior diante das bombas de efeito de longo prazo que estão no caminho de 2010. Um desses obstáculos ¿ o fim do fator previdenciário que incide sobre as aposentadorias do setor público ¿ o governo tentará vencer: a ideia é encontrar uma fórmula que dê aos congressistas o discurso de que o Poder Executivo queria manter o fator intacto, mas a base política negociou a redução, ainda que menor do que a fixada no projeto do deputado Paulo Paim (PT-RS).

Outro polêmico projeto que pode atrapalhar Dilma, do ponto de vista de recursos, a base não quer ver em pauta de jeito algum: trata-se do veto presidencial à equiparação do reajuste das aposentadorias ao do salário mínimo. Os deputados querem deixar esse tema para depois das eleições porque, quanto mais perto do pleito, mais difícil para o Parlamento dizer não a um aumento salarial aos idosos. Se esse obstáculo for colocado na pista, é provável que o governo tropece e seja obrigado a ceder mais dinheiro para bancar os reajustes das aposentadorias. E será menos dinheiro para a mãe do PAC alimentar o filho.