Título: Encíclicas de João Paulo II
Autor:
Fonte: O Globo, 18/09/2010, Opinião, p. 7

Ao retomarmos nossas reflexões sobre os documentos da Igreja, recordo uma breve carta encíclica, ¿Dominum et Vivificantem¿, cujo tema é o Espírito Santo, publicada a 18 de maio de 1986 pelo Papa João Paulo II. Em 1980, havia publicado outra, ¿Dives in Misericordia¿ (¿Rico em misericórdia¿); no ano anterior, a ¿Redemptor Hominis¿ (¿Redentor do Homem¿), sobre Jesus Cristo. Como ele mesmo disse, as três formam uma trilogia dedicada à Santíssima Trindade. Abordaremos cada uma delas.

Os ensinamentos pontifícios são ministrados aos fiéis de modo variado e em diferentes níveis. Perpassa-lhe as páginas a extraordinária influência do Paráclito na vida da Igreja, nestes mais de dois mil anos de atividade redentora em favor da Humanidade. De par com os aspectos positivos, leva-nos a examinar nossas infidelidades neste largo período de tempo, desde Sua vinda no Cenáculo até nossa época.

A primeira parte da encíclica se intitula ¿O Espírito do Pai e do Filho dado à Igreja¿. Por isso, a Igreja pode conservar sempre intacta a verdade que os Apóstolos aprenderam de seu Mestre (nº 4). Somente assim ¿introduz-se o homem oportunamente na realidade do mistério revelado¿ (nº 6). Neste capítulo, acompanhamos o desabrochar da Revelação divina sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, da Criação aos ensinamentos de Jesus e à manifestação do Paráclito, após a Ascensão. Com a vinda deste, tem início a história da Igreja. E Ele é a garantia de sua perenidade (nº 26).

A segunda parte traz por título ¿O Espírito que convence o mundo quanto ao pecado¿. Chamado à existência, o ser humano é mera criatura e, como tal, depende do Criador. Transgredir os limites estabelecidos por Ele constitui desobediência ao Senhor e uma agressão ao indivíduo. Tudo ocorreu em nossas origens e se repete na vida de cada um. ¿Deus permanece a primeira e soberana fonte para decidir sobre o bem e o mal (...) e o Espírito é para o homem a luz da consciência e a fonte da ordem moral¿ (nº 36).

O terceiro capítulo aborda o tema ¿O Espírito que dá a vida¿. A contribuição divino-humana da Igreja, vivificada pelo Espírito, assim como sua missão, também se fundamenta n¿Ele. E, mediante a Eucaristia, a unidade tão desejada recebe o indispensável alimento. Vejo esse documento como fator muito eficaz na luta que travam os cristãos. Inseridos em um mundo atribulado, no qual impera nítida inversão de valores, as considerações sobre o Espírito Santo desfrutam de particular importância. Levam-nos ao aperfeiçoamento de nossa prática religiosa e fortalecem os fiéis nos embates frente a uma mentalidade pagã reinante na sociedade.

Peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine a professar a doutrina do Senhor, mesmo à custa de sacrifícios.

D. EUGENIO SALES é cardeal-arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio.

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