Título: Situação de risco para cinco milhões de crianças
Autor: Galdo, Rafael
Fonte: O Globo, 18/09/2010, O País, p. 20

Rafael Galdo, Henrique Gomes Batista e Efrém Ribeiro

RIO e TERESINA. Mayna Lorrane, de 9 anos, acordou na quintafeira com fortes dores de cabeça, algo que tem se tornado uma rotina em sua curta vida.

Seu irmão, Walter, de quatro meses, há um mês vem perdendo os cabelos. O mais velho, Geraldo, de 8 anos, sente dores de barriga. A mãe, Rosania Soares Marinho, de 35 anos, também se sente mal.

Essa família mora em uma casa de taipa no Parque Nova Alegria, na periferia de Teresina, pequena vila surgida de uma invasão de terreno. Toda a família completada pelo mestre de obras Valdeci Lima da Silva vive há três meses em uma casa onde não há coleta de lixo, saneamento e o abastecimento de água é clandestino.

Para piorar, ela divide o quarto da residência com um vaso sanitário.

Juntamos o lixo, e quando está com mau cheiro nós queimamos diz Mayna.

A realidade de Mayna não é um caso isolado. De acordo com o IBGE, cerca de cinco milhões de crianças entre 0 e 14 anos, ou 10,9% do total dessa faixa etária, vivem em situação de risco, ou seja, em casas sem água tratada, sem rede de esgoto geral e sem coleta de lixo.

O Nordeste concentra grande parte dessas crianças: 19,2% nesta faixa etária não têm acesso a serviços básicos. No Sudeste fica a outra ponta: apenas 4%. O Maranhão e o Piauí lideram essa estatística. A pesquisa mostra ainda que quase 39,4% dos alunos na educação básica estudam em escolas sem esgotamento sanitário e 10% delas em colégios sem água potável.