Título: País tem pior taxa de evasão escolar no Mercosul
Autor: Galdo, Rafael
Fonte: O Globo, 18/09/2010, O País, p. 20

Pesquisa do IBGE revela alto índice de abandono: 14,8% dos adolescentes de 15 a 17 anos estão fora das salas de aula

Apontada como um gargalo para o desenvolvimento no país, a educação dos jovens brasileiros vive contradições, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2010, divulgada ontem pelo IBGE. Segundo o levantamento, 14,8% dos adolescentes de 15 a 17 anos não frequentavam a escola em 2009, e quase um terço (32,8%) da população de 18 a 24 anos tinham deixado os estudos precocemente, sem completar o ensino médio. Numa comparação com os países do Mercosul, o país era o que tinha a maior taxa de abandono do nível médio na região, de 10%, em 2007, contra 7% na Argentina, 6,8% no Uruguai, 2,9% no Chile, 2,3% no Paraguai e 1% na Venezuela.

O abandono está ligado ao desestímulo. Uma criança que repete perde o interesse de ir à escola. Em educação, as mudanças são todas geracionais e, para resolver este problema do ensino médio, é necessário reforçar a qualidade e o interesse das crianças na pré-escola e no ensino fundamental disse Naércio Menezes, professor de economia do Insper e especialista em educação.

Apesar disso, a pesquisa revela avanços. A proporção da força de trabalho de 18 a 24 anos que concluiu o ensino médio ou ingressou no nível superior quase dobrou em dez anos.

Em 1999, essa era a condição de 29,6% dos jovens: 21,7% tinham 11 anos de estudo (tempo necessário para completar o nível médio) e 7,9%, mais de 11 anos (pelo menos entraram na universidade).

Uma década depois, o percentual chegou a 55,9%, sendo 40,7% com 11 anos de estudo e 15,2% com mais de 11 anos.

Na mesma faixa etária, cresceu o número daqueles que concluíram algum curso de qualificação profissional. Em 2004, eram 17,2%, frente a 30,8% em 2009 percentual, porém, menor do que os 31,3% de 2008.

No caso do ensino universitário, para a coordenadora da pesquisa, Ana Lúcia Saboia, podem estar contribuindo para melhores índices programas como o ProUni iniciativa do governo federal de bolsas de estudos. Já no ensino médio, ela destaca o aumento da taxa de adolescentes de 15 a 17 anos na série adequada à idade: 50,9% em 2009, contra 32,7% dez anos antes.

Apesar do avanço, Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considera que a taxa está distante do ideal. Para ele, o fato de quase a metade dos adolescentes não estar na série correta se deve, principalmente, à repetência, apontada por ele, junto com a má qualidade das escolas, como uma das principais causas para a evasão escolar: Por não completarem o ensino médio, muitos enfrentam consequências dramáticas no trabalho, como o subemprego, por falta de qualificação.

Por trás dos dados positivos também há desigualdades regionais e sociais. Em 2009, 81% dos adolescentes de 15 a 17 entre os 20% mais pobres estavam na escola, frente a 93,9% dos 20% mais ricos. Dobrou o acesso à universidade das pessoas com mais de 25 anos que se declaram pretas: 2,3% em 1999 e 4,7% ano passado índice, porém, quase quatro vezes menor do que o da população branca no ensino superior, de 15%. E, no Norte e Nordeste, a taxa de adolescentes de 15 a 17 anos na série esperada para a idade em 2009 não alcançava a do Sudeste em 1999: 39,1% no Norte e 39,% no Nordeste, frente a 42,1% no Sudeste dez anos atrás e 60,5% hoje.