Título: Bancos públicos puxam crescimento do crédito
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 23/09/2010, Economia, p. 29

BC aumenta de 22% para 24% projeção para o aumento de empréstimos por instituições oficiais este ano

BRASÍLIA. Apesar de o Brasil ter superado a crise internacional, os bancos públicos - que no auge da turbulência, entre o fim de 2008 e o início de 2009, foram convocados pelo governo para gerar liquidez no mercado - vão continuar puxando a expansão do crédito no país neste ano, sobretudo devido à atuação do BNDES e da Caixa Econômica Federal. A projeção é do Banco Central (BC), que estima agora uma expansão de 24% no volume de empréstimos feitos pelas instituições oficiais, acima dos 22% esperados até então. Para o mercado crédito brasileiro em geral, o BC melhorou sua previsão de crescimento este ano de 20% para 22%.

No ano passado, os bancos públicos já haviam elevado o ritmo de financiamentos em 31,1%, respondendo por 41,4% de todos os empréstimos feitos no país. Hoje, a fatia é de 42,18%. Para os bancos privados nacionais, a conta foi inversa: em vez de uma expansão do crédito de 24%, agora o BC prevê 20% neste ano. Ainda assim será melhor do que o crescimento de 2009, de apenas 8,7%, número influenciado pela crise internacional. Os bancos estrangeiros, que respondem por apenas 17,64% do mercado, vão elevar suas operações em 14%, ante os 9% esperados anteriormente.

Para analistas, crédito oficial pode forçar juros mais altos

A presença estatal é mais visível porque o governo injetou cerca de R$180 bilhões no BNDES do ano passado para cá. Com isso, deu forte munição para o banco fazer empréstimos ao setor produtivo. Especialistas, porém, alertam para o risco de pressão sobre a política monetária, já que os recursos oferecidos pelo BNDES são subsidiados, baseados na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - hoje em 6% ao ano, abaixo dos 10,75% da Selic, que baliza os demais empréstimos.

- Os juros do BNDES não estão atrelados à política monetária e essa independência obriga o BC a trabalhar com juros básicos mais elevados - diz a economista do banco Santander Luíza Rodrigues, lembrando que os empréstimos do BNDES geram consumo e investimentos, o que é bom, mas podem ser inflacionários também pois alimentam a demanda.

Juro para pessoas físicas cai para menor patamar desde 94

Em agosto, o país contava com R$1,583 trilhão em crédito, o que correspondia a 46,2% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Essa relação deve ficar em 48% no fim do ano.

Segundo o chefe-adjunto do departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, o volume de crédito direcionado crescerá 30% este ano, ante uma projeção anterior de 26%. Isso se deve aos empréstimos habitacionais, encabeçados pela Caixa, e dos desembolsos do BNDES que, no mês passado, já cresciam 32,3% em 12 meses. As previsões para o aumento de crédito livre passaram de 17% para 18% este ano.

A expansão do crédito veio acompanhada por reduções nas taxas de juros médias para pessoas físicas. Em agosto, ficaram em 39,9% ao ano, o menor patamar da série história, iniciada em julho de 1994. Já a inadimplência (atrasos acima de 90 dias) em agosto ficou estável para pessoas jurídicas em 3,6%. Para as famílias, caiu 0,1 ponto percentual, para 6,3%.